A continuidade de altas taxas de desemprego no país pelo menos até meados do próximo ano tende a empurrar a recuperação do setor de planos de saúde para 2018, estimou o presidente da Amil, Sergio Ricardo Santos, em entrevista ao Valor. Maior operadora do setor no país, com 5,9 milhões de beneficiários, a Amil testa em 11 hospitais do eixo Rio-São Paulo um modelo de remuneração alternativo ao “fee for service”, em que o prestador é pago diretamente por cada serviço ou atividade executada.

Trata-se do pagamento por agrupamento de doenças, em que o hospital é remunerado pelo tratamento completo de uma determinada enfermidade. Dentro dessa lógica, o estabelecimento recebe, por exemplo, por cada caso de pneumonia tratado. “Eu paro de contar seringas e passo a contar a taxa de sucesso nos tratamentos”, comparou Santos. No projeto-piloto desenvolvido atualmente estão sendo considerados 15 grupos de doenças. Foram incluídos seis hospitais da Amil e outros cinco da Américas Serviços Médicos, que faz parte do mesmo grupo da operadora de planos de saúde, o UnitedHealthcare Brasil.

Santos argumentou que o modelo de remuneração adotado atualmente – baseado na geração de volume de serviços – ameaça a sobrevivência do setor. “O modelo de remuneração existente hoje no Brasil, o ‘fee for service’, é ultrapassado, inviável e não tem nenhum alinhamento com a missão de garantir um sistema de saúde viável no setor público e no privado”, frisou.

Pressionado pelas altas taxas de desemprego, o setor deve terminar 2017 com um saldo negativo de beneficiários, na comparação entre os números de janeiro e dezembro, projetou o presidente da Amil. “Ainda vamos ter uma piora porque o setor de saúde privado é muito sensível ao tamanho da carteira de beneficiários e, consequentemente, muito sensível à taxa de desemprego. Como a taxa de desemprego é um dos últimos indicadores a melhorar na recuperação da economia como um todo, o setor de saúde volta a ter uma retomada nessa linha do tempo num momento mais tardio”, justificou Santos, para quem o desemprego dificilmente vai diminuir antes de meados de 2017.

No fim de outubro, o número de beneficiários em planos médico-hospitalares no país somava 48,25 milhões, de acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O total ainda é muito distante do patamar recorde registrado em 2014, quando a quantidade de beneficiários no Brasil se aproximou de 51 milhões. “A gente começa a se recuperar no segundo semestre em algum momento e em alguma monta, mas a perspectiva de resultado melhor para todo o setor é só para 2018. Agora, com relação à recuperação plena do que já fomos, não posso falar nem de 2018”, afirmou o executivo.

Com faturamento global de US$ 67,6 bilhões em 2015, a Optum – empresa de tecnologia voltada à saúde do grupo UnitedHealth – ainda engatinha no Brasil, mas já costura parcerias no setor público e, principalmente, segmento privado, contou Santos.