A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou que a solução para os problemas financeiros da Unimed-Rio passa necessariamente por um aporte dos médicos cooperados e justificou que esse tipo de contrapartida está legislação das cooperativas médicas. O comunicado da agência reguladora vem após uma tentativa fracassada, em abril, da Unimed-Rio de lançar uma capitalização de cerca de R$ 200 milhões para pagar uma parte das dívidas. O objetivo era que todos os 5,5 mil cooperados contribuíssem, mas a chamada de capital sequer foi aprovada.

Essa capitalização foi substituída por um acordo com os médicos associados, que concedem um abatimento de 25% no valor do procedimento realizado. Por exemplo: numa consulta de R$ 80, a cooperativa paga R$ 64. Segundo a Unimed-Rio, a soma desses descontos é de R$ 200 milhões. “No entanto, essa não é uma solução porque não é dinheiro novo e sim uma redução de despesa”, diz uma fonte do setor.

A agência informou ainda que analisa o plano de adequação financeira apresentado pela Unimed-Rio, cuja dívida financeira e tributária é superior a R$ 1 bilhão e o patrimônio é negativo em R$ 736 milhões. “A rede de prestadores (hospitais e laboratórios) ouvidos se dispôs a atuar em prol do plano de recuperação”, diz nota da ANS. A Unimed Brasil, entidade representante das cooperativas médicas, ajudou a Unimed-Rio a montar o plano de reestruturação que tem duração de três anos.

Uma eventual quebra da Unimed-Rio poderia provocar impactos ainda maiores do que os gerados pela liquidação da Unimed Paulistana, decretada no ano passado, tanto para os usuários quanto para a cadeia médica carioca.

Para efeitos de comparação a Unimed-Rio tem, atualmente, 850 mil clientes e a Paulistana detinha cerca de 750 mil na época da intervenção. Na cidade do Rio de Janeiro, a Unimed é disparado a maior operadora de planos de saúde e não há outras cooperativas médicas para absorver a carteira de clientes como aconteceu em São Paulo. Os clientes da Paulistana migraram para a Federação das Unimeds do Estado de São Paulo (Fesp), Central Nacional Unimed (CNU) ou Seguros Unimed , que se cotizaram para receber esses usuários.

O maior impacto de uma eventual quebra se daria para os usuários de planos individuais, que têm poucas opções no mercado. Na Unimed-Rio, essa carteira é formada por cerca de 300 mil pessoas físicas, sendo que 40% têm mais de 59 anos de idade. Na Paulistana, havia cerca de 160 mil planos individuais e a migração foi marcada por muita confusão.

Além disso, reflexos negativos poderiam se espalhar pela cadeia de hospitais, clínicas e laboratórios do Rio, em especial aqueles de menor porte. Os grandes grupos pressionaram a Unimed-Rio logo quando começaram os primeiros atrasos de pagamento em 2014.

Além dos problemas financeiros, a Unimed-Rio enfrenta um grande conflito político. A diretoria de Celso de Barros, que está no comando desde 1998, enfrenta uma oposição ferrenha dos integrantes do conselho fiscal. A oposição acusa Barros de falta de transparência na contabilidade e questiona estratégias adotadas como a construção de um hospital e centros de atendimento que demandaram investimentos de R$ 650 milhões, além de um patrocínio de 15 anos ao Fluminense. Diante desse cenário, a vida da Unimed-Rio não avança e tentativas como a venda do hospital, principal ativo da cooperativa, que poderia aliviar as contas, ficam paralisadas.