A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) já trabalha com a possibilidade de o Sistema Unimed assumir os mais de 800 mil beneficiários da cooperativa carioca. A agência reguladora confirmou que recomendou a venda da carteira da Unimed-Rio dentro de 30 dias, após O GLOBO ter acesso a um comunicado encaminhado a presidentes de cooperativas do grupo pela Federação Unimed do Estado do Rio, que convocou uma reunião para o dia 14 de outubro. Oficialmente, a ANS não confirma a estratégia de buscar uma solução dentro do sistema de cooperativas para o problema do Rio de Janeiro. Segundo pessoas próximas ao plano de recuperação da Unimed-Rio, o objetivo é garantir o atendimento, independentemente do equacionamento das contas da operadora carioca.

MÉDICOS RECEBEM 30%

As dificuldades de caixa da cooperativa levaram a Unimed-Rio a não pagar integralmente os valores devidos proporcionais à produção dos médicos, como consultas e exames. Em documento ao qual O GLOBO teve acesso, os cooperados foram informados que receberão, na segunda-feira, 17 de outubro, 30% do valor devido. O restante, ratifica a operadora, será pago, com os respectivos descontos, em data ainda a ser definida. Em nota, a empresa informa que o ajuste “se deve a uma necessidade de adequação ao fluxo de caixa”.

Ainda na segunda-feira, haverá uma reunião na agência com a presença de representantes da cooperativa carioca, do Sistema Unimed, dos Ministérios Públicos (MPs) estadual e federal, da Defensoria Pública do Estado e de toda a rede credenciada da operadora. O objetivo é firmar um acordo que garanta a manutenção de atendimento por 90 dias. Se a negociação for fechada, o prazo de alienação da carteira pode ser revisado, pois se trata, por ora, de uma recomendação, explica uma fonte.

— A Unimed-Rio não cumpriu os prazos previstos para a entrega de proposta para viabilizar a empresa. E houve um aumento das reclamações em relação a atendimento em praças fora do Rio. A saída foi recomendar a alienação da carteira, tentando uma solução interna ao sistema para garantir a assistência das mais de 800 mil vidas — esclarece uma fonte que acompanha as negociações, afirmando que o sistema já teria sinalizado positivamente caso haja necessidade de absorver a carteira de clientes.

A Unimed-Rio ressalta que “o ofício encaminhado pela ANS não representa uma determinação, mas sim uma recomendação feita antes da entrega de uma nova versão do Programa de Saneamento”. O plano, protocolado na segunda-feira, no órgão regulador, apresenta novas medidas econômico-financeiras para tirar a empresa — que tem passivo de R$ 1, 9 bilhão — da crise. O comando da empresa afirma que cumpriu todos os prazos da reguladora e que atrasos teriam ocorrido na gestão anterior.

As negociações em torno da recuperação parecem estar chegando a um ponto decisivo, o que aumentou a cautela entre os envolvidos. O grupo formado por MPs, Defensoria e Procons, por exemplo, preferiu não se pronunciar até a reunião de segunda-feira. Os próprios entes do Sistema Unimed foram evasivos em suas resposta ao GLOBO.

A Unimed Federação-Rio, que reúne as 20 cooperativas da rede no estado, e que enviou a cooperados o documento sobre a alienação da carteira ao qual a reportagem teve acesso, limitou-se a declarar que está em busca de soluções junto ao Sistema Unimed para manter o atendimento aos clientes da operadora carioca.

A Unimed Brasil também informou, por meio de nota, que “apoia a Unimed-Rio para que esta cooperativa continue prestando seus serviços à comunidade; e confie que os eventuais desafios serão superados”. O posicionamento foi acompanhado pela Central Nacional Unimed (CNU).

A Unimed Leste Fluminense (Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Rio Bonito, Maricá, Tanguá e Silva Jardim) confirmou o atendimento a clientes da Unimed-Rio, conforme acordo firmado entre as duas cooperativas e o Ministério Público de Niterói no fim de agosto.

R$ 14 MILHÕES DE VOLUNTÁRIOS

Apesar do agravamento da crise, com a negativa de aporte de R$ 500 milhões pelos cooperados, em assembleia realizada no fim do mês passado, a coordenadora do Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon), da Defensoria Pública do Estado, Patrícia Cardoso Tavares, em entrevista à “Defesa do Consumidor” do GLOBO, no último dia 3, disse não recomendar que os beneficiários da Unimed-Rio deixem o plano de saúde. Ela lembrou que “em caso de liquidação extrajudicial, o usuário está protegido pela portabilidade extraordinária”.

A diretoria da cooperativa informou ainda que, uma semana após o lançamento do Programa Voluntário para o pagamento de tributos devidos pelos 5.400 cooperados, recebeu R$ 14 milhões de cerca de 400 médicos e outros 400 demonstraram interesse em participar.