Publicitário e morador de Mogi das Cruzes (SP), Lucas Kodra está com suspeita de Covid-19. O plano de saúde coletivo empresarial, utilizado para a cobertura de toda a família, não ofereceu o teste de diagnóstico RT- PCR, orientando o jovem de 28 anos a viajar a capital do estado, São Paulo, onde poderia encontrar laboratórios que realizassem o exame por meio do convênio médio.

“Disseram que o problema era da escolha do plano que contratei. Na época, tinha um laboratório que o convênio cobria, mas fechou e não incluíram nenhum outro no lugar”, comenta.

Histórias como a de Lucas parecem ser recorrentes. De acordo com Relatório Covid-19, divulgado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mais de 16 mil reclamações relacionadas à serviços de atendimento do novo coronavírus foram registradas entre março e dezembro de 2020, uma média diária de 53 reclamações.

O pico de insatisfação foi registrado em julho (3.475). A partir de agosto, o número teve queda e só voltou a crescer no mês de dezembro, quando tiveram 1.173 registros, sendo que 74% foram relacionadas aos exames do novo coronavírus.

Segundo advogado especialista em direito à saúde Rafael Robba, negativas para realizar exames de diagnóstico da Covid-19 (RT- PCR) e, também, o de detecção de anticorpos (sorologia) dificilmente vão parar no judiciário. “O custo não justifica. Então, se o beneficiário não consegue resolver o problema por meio da ANS, acaba ficando no prejuízo”, diz.

Lucas está cumprindo quarentena em casa devido à suspeita de infecção pelo vírus. “Com sintomas, vou me deslocar e correr o risco de contaminar muitas outras pessoas? Acabei pagando R$ 300 pelo teste na cidade mesmo. Só que já pago R$1.200 por um plano.”, comenta.

O advogado Rafael Robba vê um cenário preocupante diante do contexto de pandemia. “Mostra que a saúde suplementar não está dando a resposta que deveria. Isso faz com que ou o beneficiário custei o serviço ou sobrecarregue ainda mais o Sistema Único de Saúde”, explica.

Desde o dia 13 de março do ano passado, o exame de diagnóstico da Covid-19 deve ser coberto pelos planos de saúde, em caso de suspeita da Covid-19, desde que tenha indicação médica, seguindo o protocolo e diretrizes definidas pelo Ministério da Saúde.

Outro lado

À CNN, a FenaSaúde diz que as reclamações referentes aos atendimentos relativos à Covid-19 caíram 66% desde julho e que o número registrado em dezembro (1.173) equivale a 0,002% do total de 47,6 milhões de beneficiários atendidos por planos de saúde no país.

Disse ainda que associadas à FenaSaúde se empenham para prestar o melhor atendimento a seus beneficiários e, durante a pandemia, foram realizados 1,7 milhão de exames RT-PCR e 235 mil exames sorológicos de identificação de anticorpos da doença.

Já a Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde) informou que as operadoras atuam em consonância com as melhores práticas de políticas públicas, com o objetivo de mitigar os impactos à saúde da população.

Lembra que, mesmo neste momento único e sem precedentes, todos os tratamentos continuam à disposição dos beneficiários