Diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Paulo Roberto Rebello Filho afirmou ontem, em depoimento à CPI da Covid, que será instaurada uma “direção técnica” do órgão dentro da Prevent Senior. A partir do dia 14, um diretor da ANS passará a dar expediente na operadora de saúde, corrigindo fluxos e processos, solicitando informações, estabelecendo metas e acompanhando indícios de irregularidades. Este diretor, contudo, “não vai gerir” a operadora, disse Rebello.

A Prevent Senior entrou na mira da CPI após a divulgação de um dossiê de médicos que apontaram que os hospitais da rede eram usados como laboratórios para o tratamento precoce contra a covid-19, com os profissionais sendo instruídos o tempo todo a prescrever medicamentos sem eficácia comprovada cientificamente no combate à doença.

Apesar da iniciativa, senadores apontaram ter havido omissão da ANS no caso da Prevent Senior. Rebello disse ter tomado conhecimento das denúncias apenas recentemente, através da própria CPI da Covid.

Vice-presidente da comissão, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) contestou. Ele apresentou uma série de capturas de tela encaminhadas por profissionais de saúde à agência em abril deste ano, nas quais constam mensagens de gestores da Prevent Senior determinando que os médicos receitassem hidroxicloroquina aos pacientes mediante qualquer sintoma, mesmo que fosse um simples espirro. “Espirrou, toma [hidroxicloroquina]”, escreveu uma diretora. “Os resultados estão ótimos.”

Rebello insistiu que não tinha ciência do caso e pediu para ter acesso ao material, a fim de checar porque as denúncias não tiveram prosseguimento na ANS.

Ele também esclareceu que não há qualquer intenção em retirar a operadora do mercado e que a ANS levará em conta o interesse coletivo e garantia dos 540 mil beneficiários da Prevent Senior. “Tal regime especial tem o propósito de um acompanhamento mais próximo da ANS, não sendo seu objetivo final a retirada da operadora do mercado, mas garantir a manutenção da qualidade assistencial aos beneficiários.”

Ex-chefe de gabinete do atual líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), Rebello negou que sua indicação ao cargo tenha sido apadrinhada pelo parlamentar. Ele atribuiu sua escolha ao ex-ministro da Saúde Gilberto Occhi, que sucedeu Barros no cargo em abril de 2018, por indicação do antecessor. “O senhor está sendo ingrato com Barros”, ironizou o senador Otto Alencar (PSD-BA).

Os senadores lembraram outra controvérsia: o presidente Jair Bolsonaro chegou a retirar a indicação de Rebello à ANS e teve de recuar. Ele foi sabatinado em julho deste ano pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) e teve seu nome aprovado pelo colegiado. Mais tarde, no plenário, o líder do governo, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), informou que Bolsonaro havia enviado mensagem pedindo a retirada da indicação. Os senadores resolveram ignorar o presidente e chancelar Rebello e, por fim, Bolsonaro desistiu da retirada.

Questionado, Rebello disse desconhecer se Barros atuou pela manutenção do seu nome.