Como reflexo da crise econômica que atinge o País, a população desempregada somou 12 milhões de pessoas entre agosto e outubro de 2016, um aumento de 33,9% em comparação ao mesmo trimestre de 2015 e o maior índice de toda a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que teve início em 2012. Nesse cenário, mais de 1,5 milhão de brasileiros deixaram de ter planos de saúde nos últimos 12 meses, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o que representa além de um desfalque para as operadoras de saúde, um fluxo ainda maior de usuários no sistema público – já lotado. Só em São Paulo, a fila para a realização de exames na rede municipal cresceu 56% em 2016. Atualmente, 347 mil pessoas aguardam para realização de um teste simples, como endoscopia, ou mais complexo, como tomografia computadorizada. O tempo de espera pode passar de cinco meses.

Segundo Rogério Medeiros, professor do MBA de Gestão em Saúde do Centro Universitário São Camilo, os reflexos tanto nos hospitais públicos, quanto nas operadoras, vão ser vistos ainda por um tempo. Ele explica que, quando uma operadora perde 10 mil vidas, por exemplo, precisa vender acima disso para repor o prejuízo, porque só terá um retorno líquido de investimento a partir da quarta ou quinta parcela paga pelo cliente. “As primeiras parcelas são para o pagamento de despesas de prospecção, como corretor e propaganda. A operadora não perde apenas um cliente, mas cerca de quatro meses sem receita”, diz Medeiros, ressaltando que somado a isso, muitas pessoas e empresas migraram para planos mais baratos.

Repor essa perda demanda planejamento, revisão de investimentos e paciência. Isso porque, os mais de um milhão de vidas perdidas referem-se a clientes conquistados ao longo do tempo, em torno de quatro ou cinco anos, não apenas nos últimos 12 meses. “Recuperar essas vidas pode demorar até cinco anos”, prevê Medeiros.

O movimento reflete diretamente, também, nos hospitais privados: antes destino dos pacientes com convênio médico, perdem esses usuários que, sem recursos, precisam recorrer ao já sobrecarregado sistema público de Saúde. O movimento exige dos gestores de hospitais ainda mais acuracidade na gestão: com menos atendimentos, a receita vinda das operadoras de saúde é menor. Já que não é possível controlar a demanda, a saída é manejar onde se tem controle. Em outras palavras, é necessário cortar custos e buscar meios de aumentar rentabilidade, mesmo que a receita fique congelada ou se retraia. Para isso, é preciso adicionar inteligência aos processos administrativos, por meio de automatização que gerem economia de backoffice, além de se amparar em ferramentas de análise de dados, que melhorem o atendimento e a segurança do paciente.

O SUS e 2017

“Não há medicamentos, nem leitos suficientes em muitos municípios, o que pode dobrar o tempo de espera – já longo – por um atendimento”, ressalta Medeiros. Com quase 75% da população dependendo do Sistema Único de Saúde (SUS), vai ficar ainda mais difícil o atendimento, pois o número de pacientes aumentou, mas os gastos com a Saúde Pública não. Nos últimos quatro anos do governo Dilma Rousseff, os gastos na área ultrapassam os R$ 100 bilhões anuais. No começo deste ano, o montante passou de R$ 90,34 bilhões para R$ 87,98 bilhões.

Na visão de Medeiros, no próximo ano pouca coisa vai mudar. “Precisamos esperar o desdobramento da PEC 241/55, medida proposta pelo governo que impõe limites para os gastos públicos – incluindo os destinados à Saúde, e observar a economia. A perspectiva é que a situação comece a melhorar em 2018, com a redução do desemprego, a possibilidade de novos investimentos na área pública, e a volta tímida para os planos”, adianta.