Segundo o estudo Healthcare Rallies for Blockchain da IBM, somente 16% dos executivos de saúde entrevistados tinham planos sólidos para implementar soluções de blockchain comerciais no ano passado, por outro lado, esse número sobe para 56% se considerarmos até 2020. De forma geral, a visão é que o blockchain pode resolver inúmeros problemas no setor de saúde e se tornar um novo e promissor modelo de troca de informações médicas.

A tecnologia tem o potencial de transformar a assistência médica, aumentar a privacidade e interoperabilidade dos dados, e é claro, empoderar dos pacientes na posse e controle das próprias informações de saúde. Por exemplo, talvez um cardiologista não precise saber do seu histórico odontológico, o blockchain poderia permitir esse nível de controle pessoal, ou seja, de quais informações você quer ou não compartilhar com cada profissional.

De modo simplificado, o blockchain é um sistema descentralizado que registra e armazena registros de transações. A tecnologia permite um registro compartilhado e imutável de transações peer-to-peer, na qual o ponto da rede pode se comportar tanto como um servidor quanto como um cliente, construídas a partir de blocos de transações vinculadas e armazenadas em um registro digital. Neste sistema não há uma autoridade central, eliminado por criptografia inteligente, e sim uma distribuição para todos os participantes da rede. As interações com o blockchain tornam-se conhecidas de todos os participantes e exigem verificação pela rede antes que as informações sejam adicionadas, permitindo a colaboração sem a necessidade de confiança entre os participantes da rede enquanto registra uma trilha de auditoria imutável de todas as interações. Ou seja, o blockchain nos permite concordar com a história, mesmo que nem todos confiem um nos outros, o que infelizmente é um cenário frequente na área de saúde. Em um momento que o setor muda seu modelo de remuneração para um baseado em indicadores que envolvem múltiplos stakeholders e que precisa ser um indicador confiável e auditado pois define a remuneração de cada um deles, o blockchain pode ser um acelerador importante dessa mudança.

Ainda, como o setor de saúde lida com informações confidenciais do paciente e exige acesso rápido às informações, o blockchain pode agilizar esses registros médicos e possibilitar seu compartilhamento de maneira segura, e diferentemente de um banco de dados tradicional, no qual o dado está armazenado na memória física de um determinado sistema, e qualquer pessoa que tenha acesso a esse sistema tem o poder de corromper os dados, o blockchain, de uma só vez, oferece segurança de acesso, escalabilidade e privacidade de dados, por sua estrutura diferenciada e descentralizada.

Geralmente, as informações críticas dos paciente estão espalhadas por todos os lugares que ele já interagiu na vida, e as vezes, podem nem estar mais acessíveis quando necessário. Com este novo modelo, os pacientes teriam os dados disponíveis, independente do sistema de prontuário eletrônico que as instituições utilizassem. Uma troca de informação de saúde alimentada por blockchain poderia revelar o verdadeiro valor da interoperabilidade. Estes sistemas têm o potencial de reduzir ou eliminar o atrito, e os custos dos intermediários atuais.

A longo prazo, uma rede nacional de blockchain para registros médicos pode melhorar a eficiência e apoiar melhores resultados de saúde para os pacientes. A ideia é realizar um registro individual e longitudinal do paciente. Esses registros iriam bem além de dados sobre episódios, doenças, resultados laboratoriais ou tratamentos. Poderiam ser compilados dados genéticos, de nutrição, estilo de vida e até histórico familiar. Isso poderia maximizar tratamentos e otimizar a medicina preventiva.

Neste modelo, os pacientes teriam uma identificação única. Muitas vezes, os registros de assistência médica são incompatíveis ou duplicados. Isso porque os prontuários eletrônicos não são interoperáveis no sistema como um todo, e nem possuem campos padronizados.

Um exemplo dessa tecnologia aplicada é o MedRec, um protótipo que usa blockchain com a finalidade de melhorar os registros médicos eletrônicos e permitir que os dados dos pacientes sejam acessados de forma segura por qualquer provedor, resolvendo o desperdício de tempo, dinheiro, duplicação de procedimentos e confusão de informações que poderiam ameaçar a vida do paciente.

Outras aplicações podem ser encontradas no desenvolvimento de medicamentos, pesquisa médica – o blockchain pode fornecer o acesso de forma anônima aos dados para tornar a inovação médica mais rápida – gestão de fraudes e faturamento, são algumas das oportunidades, por exemplo. Em relação ao último item, a fraude do Medicare causou mais de US$ 30 milhões de perdas nos EUA em 2016. Sistemas baseados em blockchain poderiam minimizar o ocorrido, além disso, poderia reduzir os custos de administração para o faturamento, eliminando a necessidade de intermediários, com atividades automatizadas e processamento mais eficiente.

Em resumo, há um consenso que esta tecnologia apresenta oportunidades para a assistência à saúde. No entanto, o blockchain ainda não está maduro para uso imediato. Diversos desafios técnicos, organizacionais e de economia comportamental devem ser abordados antes que um blockchain dos serviços de saúde possa ser adotado por organizações em todo o país. A adoção e implementação de blockchains será uma evolução ao longo do tempo, e será necessária a união de todas as partes interessadas do sistema para criar soluções e trabalhar nos desafios de colaboração e governança.