O número de novos casos de infecção por coronavírus por 100 mil habitantes mais que dobrou no Brasil nos últimos dois meses. O país registrou 301 novos casos por 100 mil habitantes nas duas semanas encerradas nesta segunda, um aumento de 123% sobre os 134,4 novos casos/100 mil habitantes da quinzena que terminou em 3 de junho.

A situação do coronavírus no Brasil “continua muito preocupante” e “o caminho à frente é longo e exige forte compromisso”, disse nesta segunda Michael Ryan, diretor-executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS). “A única saída para países com intensa transmissão comunitária, como o Brasil, é uma parceria forte entre governo federal e estaduais e o engajamento da sociedade”.

A velocidade de crescimento arrefeceu, mas o número de novos casos ainda segue tendência de alta. Em relação à soma das duas semanas até 3 de julho, houve crescimento de 25% nos novos casos por 100 mil habitantes, de acordo com dados publicados nesta segunda pela ECDC (agência europeia de controle de doenças infecciosas).

Ryan afirmou que os governos precisam coordenar e elevar esforços para testar casos suspeitos, tratar os doentes, isolar mesmo casos leves, identificar, rastrear e colocar contatos em quarentena.

“É preciso criar condições para que a doença não se espalhe tão rapidamente, dar estrutura para que as comunidades possam seguir as regras e cada pessoa reduza sua própria exposição ao contágio”, disse o diretor-executivo da OMS.

O país chegou a 94.130 mortes pela covid-19, segundo levantamento da situação da pandemia de coronavírus no Brasil realizado pelo consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde, consolidados às 20h de ontem. Somente de sábado para domingo, foram 514 óbitos. Com isso, a média móvel de novas mortes no Brasil nos últimos sete dias foi de 1.011 óbitos, uma queda de 3% em relação aos dados registrados em 14 dias.

Ryan repetiu que não há “bala de prata” contra a pandemia e é preciso adotar uma estratégia ampla, que combine teste, rastreamento e quarentena com informação e engajamento das pessoas, uso de máscara e medidas de higiene.

“Alguns países terão que dar um passo atrás e ver se estão de fato fazendo tudo o que é possível politicamente, economicamente e do ponto de vista médico nesta pandemia”, afirmou.

Nos países em que a transmissão está acelerada, como o Brasil, uma estratégia é priorizar as áreas mais críticas, afirmou a líder técnica da OMS para Covid-19, Maria van Kerkhove. “O Brasil tem muitos recursos e é capaz de atacar esse problema. É preciso não apenas informar as pessoas, mas engajá-las nas medidas necessárias”, disse ela.