A crise econômica derrubou o número de brasileiros que têm plano de saúde. Mais de 160 mil segurados perderam essa cobertura. Só que, mesmo assim, com menos gente com plano de saúde, o volume de queixas dos clientes cresceu.

Cláudia foi desligada do plano de saúde quando mais precisava de assistência. Ela se recuperava de uma cirurgia para a retirada de um tumor no colo do útero. Cláudia diz que o plano não explicou o motivo da suspensão do contrato, mesmo pagando as mensalidades em dia. “Sinto dores, eu tenho que continuar mantendo o tratamento, eu não posso parar”, diz Cláudia. Ela entrou na Justiça em agosto do ano passado para dar sequência ao tratamento. Cinco meses depois, ainda não houve solução. “Eu me vejo uma pessoa assim, desrespeitada, me sinto muito mal, me sinto muito triste, me sinto para baixo”, queixa-se.

Em apenas um ano, mais de 164 mil planos de assistência médica, principalmente aqueles oferecidos por empresas a seus funcionários, foram cancelados em todo o Brasil. Apesar da redução na base de clientes, as operadoras de saúde registraram, no mesmo período, mais reclamações. Um aumento de 9%.

Para a advogada Juliana Sbragia, especializada na área de saúde, a principal causa da queda no número de coberturas em planos empresariais é a crise econômica. Ela diz que o aumento das queixas é provocado por problemas bem conhecidos entre os usuários dos planos. “As operadoras continuam negando cobertura de tratamentos essenciais para os pacientes, medicamentos e cirurgias, continuam aplicando reajustes abusivos, os pacientes que precisam de um tratamento emergencial que foi negado têm que buscar a Justiça com um pedido de liminar”, orienta a advogada.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar registrou ao todo 72 mil reclamações. Na maioria dos casos, por procedimentos não cobertos pelos planos.

Pernambuco é o estado que lidera o ranking de reclamações, seguido do Distrito Federal, Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo. No Recife, o empresário Fernando Costa entrou na Justiça contra o plano de saúde que usa há 25 anos. A empresa se recusou a cobrir os custos de uma lente para uma cirurgia de catarata, de R$ 8,4 mil. O plano queria pagar menos. E só ofereceu o ressarcimento de todo o valor quando Fernando acionou a empresa na Justiça. “Estou aguardando a decisão judicial. Eu estava pagando por uma coisa que, na hora que eu fui precisar, não me foi atendido”, diz Fernando.  Em outra disputa na Justiça, Fernando também conseguiu reduzir o valor da mensalidade de R$ 4 mil para R$ 1,69 mil.

Em São Paulo, o maior volume de reclamações foi de ex-clientes da Unimed Paulistana. Em setembro, a ANS decretou a alienação compulsória da carteira de beneficiários da operadora.

Segundo o diretor-adjunto de Fiscalização da agência, Suriêtte Apolinário dos Santos, a maioria das reclamações recebidas contra as operadoras em todo Brasil foi resolvida. “Em 86% dos casos, a ANS conseguiu dar ao beneficiário solução de um problema de uma maneira rápida por meio da nossa mediação de conflitos”, diz o diretor.

A Federação Nacional de Saúde Suplementar – Fenasaúde – disse que um dos motivos para o aumento de reclamações dos clientes foi a transferência compulsória dos clientes da Unimed Paulistana para outras operadoras. A empresa foi punida porque não atendeu às exigências da ANS.