Como os planos de saúde não são obrigados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a fazer testes do vírus da zika, a saída para quem possui suspeita da infecção é arcar com o alto custo do exame, feito em laboratórios particulares em todo o Espírito Santo, que chega a R$ 650.

A lista de procedimentos obrigatórios a serem arcados pelos planos de saúde, que sai a cada dois anos, foi divulgada em janeiro pela ANS, incluindo testes rápidos para dengue e chikungunya. Porém, o exame PCR, usado para detectar o zika, não foi adicionado.

Apesar disso, o governo do estado começou a realizar o exame e, agora, faz cerca de 100 testes por semana, quando antes a média era de 30. Para fazer, é preciso ir a uma unidade de saúde pública e passar por uma consulta médica.

A ANS não se posicionou sobre a não inclusão do teste para zika no rol de procedimentos obrigatórios dos convênios.

Em razão disso, planos como o São Bernardo Saúde não cobrem a análise. Já a Unimed Vitória informou que não oferece o teste, pois a sorologia para a detecção do vírus não está disponível para a iniciativa privada.

Já quem procura os laboratórios particulares em busca do diagnóstico se depara com altos valores. No estado, o PCR é realizado por R$ 600 no laboratório Pretti e R$ 650 no Tomazzi, por exemplo. Este último vai passar oferecer testes rápidos para o zika a partir de março, que devem ter o valor reduzido entre 30 e 40%.

Dificuldades
Segundo o infectologista e professor da Ufes Crispim Cerutti Júnior, o diagnóstico precoce da doença é fundamental para gestantes, a fim de reduzir as possibilidades de que os bebês nasçam com microcefalia. Além disso, a falta de comprovação da doença impede que se saiba exatamente qual o percentual da população que está infectado e a que ponto chega a epidemia.

“A saúde pública não dá conta de suprir toda a demanda, ela tem que ser dividida. Quando temos um esforço concentrado para lidar com um agravo novo, deveria haver comprometimento de todos os setores. O fato de os planos não cobrirem o exame por não serem obrigados não é uma boa atitude”, argumenta o professor.

Para garantir os direitos dos segurados, a Proteste, Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, enviou um pedido para que a ANS exija das operadoras a cobertura de exames pra diagnóstico da zika.

“É uma forma de os consumidores se protegerem e serem diagnosticados em um curto espaço de tempo, evitando agravamento de seu estado de saúde. Estamos numa situação em que os testes de zika não podem ser apenas presumidos. Os planos é que devem cobrir isso, já que os consumidores pagam caro por eles. Não podemos esperar por debates”, afirmou a supervisora institucional da Proteste, Sonia Amaro.

Outro lado
Procurada pela reportagem, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) não enviou nenhum posicionamento sobre o fato de o teste para zika não fazer parte do rol de procedimentos obrigatórios para os planos de saúde.

Já a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) afirma que não há consenso sobre a precisão dos exames disponíveis para a comprovação da zika e salienta que o Ministério da Saúde pretende produzir um teste para diagnóstico simultâneo de zika, dengue e chikungunya.

“Em vista da gravidade da epidemia causada pelo vírus da zika , as associadas têm suportado o aumento nos atendimentos em prontos-socorros, exames e ultrassonografias. Entretanto, (a Abramge) orienta seus associados a prestar o melhor atendimento para a solução dos casos já diagnosticados”, ressaltou em nota.

A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que responde por seguradoras como a Bradesco Saúde, afirma que esses procedimentos não estão disponíveis para grande parte dos laboratórios. Por isso, as afiliadas à FenaSaúde estão trabalhando para levantar em suas redes de prestadores de serviços aqueles que estão aptos a realizá-los em âmbito nacional.

“Além de mapear os prestadores de serviços – laboratórios, profissionais capacitados, postos de atendimento -, há medidas operacionais na cadeia de saúde necessárias para se oferecer a cobertura de forma ampla e efetiva”, justificou em nota.