Embora a expectativa para a despesa assistencial per capita na saúde suplementar continue menor para o acumulado de 2017 na comparação com 2016, a perspectiva de margem das operadoras de planos se mantém baixa.

De acordo com dados de projeção da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), é provável que a variação da despesa assistencial per capita desacelere e chegue a 15,02% em 2017 contra 19,17% em 2016. A variação de custos médico-hospitalares (VCMH), por sua vez, deve chegar a 17,67% no ano, enquanto em 2016 atingiu 18,22%. “O que nos aflige é que embora a expectativa de despesa seja menor, a variação da receita segue inferior”, diz a presidente da FenaSaúde, Solange Beatriz Palheiro Mendes.

Com a inclusão de novas tecnologias no Rol de Procedimentos, o aumento de utilização per capita do plano de saúde e a variação do preço de produtos e medicamentos colocou as operadoras de saúde em um cenário apertado e sem perspectivas de melhora. Segundo a entidade, mesmo com a perda de beneficiários no setor – que chegou a 1,5 milhão no ano passado – o volume total de procedimentos nos planos de saúde aumentou 6,4% ante 2015, totalizando 1,465 bilhão de procedimentos.

De acordo com a executiva da FenaSaúde, não existe um levantamento sobre o assunto, mas uma das hipóteses que pode ter levado a alta do gasto per capita é o medo de uma possível demissão e a perda do benefício. Além disso, questões como aumento de absenteísmo e os sintomas decorrentes de estresse durante a crise econômica podem ter influenciado um maior uso dos planos. Mesmo sem estudos no País que comprovem isso, experiências no mundo mostram que o reflexo pode existir.

Precificação

Outra questão discutida pela executiva é o aumento dos preços dos procedimentos. No ano passado, estudo da entidade aponta que o tratamento quimioterápico apresentou, em média, uma variação de 21% no preço, passando de R$ 5 mil para mais de R$ 6 mil, entre setembro de 2015 e o mesmo mês de 2016. Já os medicamentos imunobiológicos registraram um acréscimo de 11% no preço de R$ 5 mil para R$ 5,6 mil, no mesmo período.

Somada ao aumento dos preços, o avanço da cobertura através da atualização do Rol de Procedimentos tem impactado os custos assistenciais. Em 2016, quando foram incorporados 21 novos procedimentos, foram adicionados procedimentos de alto custo, como o medicamento oral para tratamento de câncer em casa. Apenas esse remédio, utilizado no tratamento de câncer de próstata, tem um custo mensal de R$ 14 mil. Em um ano, vai a chega a custar R$ 166 mil.

De acordo com Solange, hoje o maior pleito das operadoras é a falta de informações que são disponibilizadas antes de se incluir um novo procedimento no Rol. “Muitas ainda estão na mão de alguns players e nem o consumidor tem ideia do preço do tratamento. Às vezes até a operadora desconhece o preço de mercado”, diz.

Mesmo que a obrigatoriedade de apresentar informações exista, as informações que chegam sobre materiais e medicamentos não são suficientes para dar previsibilidade de gasto às operadoras.

Isso tudo se soma à perspectiva do novo Rol – atualmente em consulta pública – que passará a valer em 2018 e inclui 15 novos procedimentos. Entre eles, o Ranibizumabe/Aflibercepte que possui um custo per capita anual de quase R$ 50 milhões. “A grande questão é que o Rol é mínimo, no entanto, ele não é visto como mínimo e quando isso acontece vemos uma população não conseguindo pagar, porque a tendência é que fique mais caro [o plano]. A ANS tem que ver o interesse dos beneficiários. Não adianta incorporar para um se isso implica em um aumento para todos”, diz Solange acrescentando que a demonstração de eficácia de alguns medicamentos e o custo não é apresentada pelo player que pediu a incorporação.

“Essas incorporações devem ser acompanhadas com protocolos testados e comprovados, porque salvaguarda até o cliente, porque nem sempre significa resultados melhores para ele”, afirma o presidente da CNU, Alexandre Ruschi, acrescentando que é importante levar em consideração o impacto financeiro na operadora. Na CNU, em 2012, a atualização do Rol aumentou em 1,56% os custos assistenciais da operadora, em 2014 a variação foi de 2,28% e em 2016 passou a 4,81%.

“Somos obrigados a assumir um novo procedimento e ele é só avaliado um ano depois. Se incorporo e sou obrigado a dar a partir de janeiro tiro de onde existe. Não tenho receita para cobrir isso e acabo agravando ainda mais o resultado da saúde suplementar que já são muito comprometidos. Vemos resultados líquidos de 2%, praticamente insustentável”, completa Ruschi.