À frente da FenaSaúde desde janeiro de 2019 e com uma bagagem no setor de saúde suplementar de mais de 30 anos, o presidente da entidade, João Alceu Lima, apresentou pontos essenciais para contextualizar os sete meses de pandemia à luz do segmento. A fala aconteceu durante a abertura da Jornada do CVG RS na noite desta segunda, 09.

Embora a pandemia ainda esteja acontecendo, os números mostram que os picos de contágio e internações foram entre o final de abril e início de março. “No início havia uma inexperiência geral, mas aos poucos as coisas foram se acertando, com protocolos discutidos. Desde agosto, os dados mostram que estamos retrocedendo na expansão da doença, mas nós não devemos relaxar até que realmente haja uma vacinação”, comentou. “Muita coisa não tinha acontecido ainda até essa pandemia, afinal de contas, a última desta magnitude aconteceu há mais de cem anos atrás”, acrescentou.

Fila Única. Sobre uma possível gestão unificada dos leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) e dos privados, Alceu destacou que ficou perceptível o viés ideológico do tema, que, no fim, não se concretizou. “[Essa discussão] colocava o SUS versus a iniciativa privada. Felizmente essa discussão ideologizada passou, o sistema não entrou em colapso, com algumas exceções pontuais em algumas cidades, mas o Sistema Único de Saúde deu conta dos pacientes do Sistema Único de Saúde e a saúde suplementar deu conta também dos pacientes do sistema privado”, contou.

Confisco de leitos. No confisco, o Governo requisitaria leitos dos hospitais privados e depois acertaria as contas. “E é aí que morava o perigo”, alertou. “Na prática foram muitos poucos casos, e não aconteceram através do Governo, foram por decisões judiciais, a própria esfera municipal ou estadual abriram licitações contratando leitos privados. Os hospitais estavam vazios e eram os maiores interessados em preencher essa capacidade”, explicou.

Redução brusca de cirurgias eletivas, exames, consultórios de especialidades e dentistas. “Todo mundo correu pra casa, ninguém podia nem pensar em passar perto de um ambiente hospitalar e encontrar outros potenciais doentes, e isso aconteceu no mundo inteiro, não é uma particularidade só do Brasil”, disse. De acordo com ele, ainda que a situação não seja ideal, a maioria dos prestadores e empresas conseguiu ultrapassar a derrubada de receita que aconteceu entre abril e maio: “O fato é que o mercado se movimentou e resolveu essa desafazem, fizeram adiantamentos, buscaram formas de financiar ou fazer uma ponte para aquele momento de escassez de receita”.

Reservas. Uma das condições para utilizar parte das reservas das operadoras para auxiliar prestadores durante a escassez de recursos seria utilizar o perdão à inadimplência. “Na minha opinião, não duraríamos dois meses até quebrar. Essa ideia foi um erro, que matou uma iniciativa que poderia ter ajudado os operadores nessa fase mais difícil”, comentou. “A decisão de não aceitar foi uma decisão responsável do setor para termos empresas solventes para honrar os contratos”, complementou.

Telemedicina. O grande ponto alto do setor claramente foi a telemedicina. Além de uma ferramenta essencial para manter o atendimento diário, também auxilia pacientes crônicos. “É uma ótima solução para cuidados continuados e até mesmo para filtrar as idas ao pronto-socorro. Passado alguns meses, hoje, centenas de milhares de consultas são feitas mensalmente”, salientou.