O envelhecimento da população traz consigo não só uma nova gama de condições a serem tratadas pelos sistemas de saúde, mas também um desafio para a assistência: as comorbidades. Apenas nos Estados Unidos, 20% da população acima de 65 anos recebe tratamento para múltiplas doenças crônicas, de acordo com o Institute of Medicine (IoM).  E essa população cresce 1,5 vez ao ano.

Além de mais vulneráveis e com menos condições físicas de enfrentar procedimentos mais invasivos, essas pessoas convivem também com os riscos de efeitos adversos devido às interações medicamentosas e exigem mais recursos humanos e de estrutura dos estabelecimentos de saúde. A estimativa é que um clínico de UTI tenha, hoje, cerca de 180 atividades por paciente por dia, também de acordo com o IoM.

Também nos Estados Unidos, o desperdício com a entrega ineficiente de serviços chega e US$ 130 bilhões e, com a perda de oportunidades de prevenção, US$ 55 bilhões, de acordo com um levantamento de 2009 do IoM.

Governo inglês propõe plano de enfrentamento

Na Inglaterra, o Departamento de Saúde do NHS (National Health Service – Serviço Nacional de Saúde) criou diretrizes para mudar a abordagem das comorbidades, que já consomem de 8 a 13 bilhões de libras por ano, segundo estimativa do órgão. Até 2018, 2,9 milhões de britânicos devem conviver com doenças crônicas múltiplas, ante 1,9 milhão em 2008.

A estratégia, detalhada na publicação “Comorbidities – A framework of principles for system-wide action”, visa a atender tanto aos pacientes com comorbidades devido ao envelhecimento, que vão requerer serviços coordenados e abordagens que os ajudem a manter suas funções cotidianas e qualidade de vida, quanto àqueles expostos a fatores de risco por questões pessoais, ocupacionais ou sociais, que devem também sofrer dificuldades relacionadas à saúde mental. Para esse último grupo, o foco está em prevenção e ações para atacar os principais determinantes dessas condições de saúde.

Entre as principais ações estão:

1) Diagnosticar e tratar condições crônicas de longa duração efetivamente, para prevenir complicações;

2) Identificar métricas da comorbidade, como combinações fatais, número de doenças crônicas e número de drogas prescritas;

3) Definir diretrizes conjuntas entre diversos estabelecimentos, níveis profissionais e especialidades para prevenir e gerenciar as comorbidades;

4) Considerar doenças mentais e condições de longo prazo juntamente com a doença física pontual. Ter uma doença mental grave, associada à uma física, aumenta significativamente a mortalidade.

7) Reformar os modelos de pagamento e os sistemas de cuidados coordenados – construir estruturas ao redor dos pacientes que apoiem a responsabilidade compartilhada entre as “fronteiras” de atendimento, o que inclui um novo modelo de pagamento.

8) Treinar a força de trabalho em cuidados centrados no paciente, especialmente na prevenção e gerenciamento de doenças crônicas múltiplas.

9) Considerar o potencial de consequências adversas não intencionais para pacientes com comorbidades quando for necessário redesenhar os serviços ao redor de uma doença específica.

O relatório conclui que um conjunto dessas ações trará benefícios imediatos a uma parcela dos pacientes, mas esforços maiores serão necessários para implementar estratégias que beneficiem uma gama maior de pessoas, por um longo prazo.