“Saúde tem remédio e passa pela parceria entre todos os envolvidos neste segmento”. Foi com essa declaração que Solange Beatriz Palheiro Mendes, presidente da FenaSaúde, iniciou sua participação no painel “Saúde tem remédio?” realizado, na quinta-feira (6/10), durante o XVII Congresso de Corretores de Seguros (Conec), em São Paulo.

O painel apresentou um panorama da saúde no Brasil e as dificuldades do setor, entre as quais, alta sinistralidade e elevada inflação médica, agravadas com a crise econômica. “Foi uma oportunidade para debater ações envolvendo corretores de seguro saúde no sentido de informar e conscientizar consumidores sobre uma boa utilização e o que esperar dos planos de saúde e quanto à escalada de custos desse segmento”, afirma a presidente da FenaSaúde.

De acordo com a federação, em 2015, a saúde suplementar contribuiu com 40% da arrecadação do mercado segurador. Em 2017, tem uma previsão de receita de aproximadamente R$ 187 bi. O orçamento previsto para o Sistema Único de Saúde (SUS), no mesmo período, é de R$ 112 bi. Apesar desses números, o mercado opera com margens apertadas. De 2007 a 2016, por exemplo, foram registrados resultados negativos em seis anos em um setor que entrega anualmente cerca de 1,4 bilhão de procedimentos. “Em nove anos, tivemos seis resultados operacionais negativos e é por isso que alertamos para a crise de sustentabilidade que ameaça o setor”, explica a presidente da entidade.

A executiva também ressaltou que 30% do que se gasta em saúde é despesa com desperdício. “O consumidor precisa se engajar para também auxiliar no combate a essa escalada dos custos em saúde. Esses custos podem ser controlados. Desperdício se combate com práticas e conscientização”, pondera Solange Beatriz, que citou como exemplo os números de realização de exames de ressonância magnética. Em cada 1 mil habitantes o SUS realiza sete, os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) realizam 60 e a saúde suplementar brasileira, 132.

Outro ponto de atenção apresentado foi a relação entre preços. Segundo dados da FenaSaúde, uma prótese de joelho pode ter seu valor final 8,7 vezes maior que o custo inicial de R$ 2 mil a R$ 18 mil, devida as margens que são impostas a comercialização do produto.

Para a presidente da FenaSaúde, os corretores precisam conhecer as características do setor para poder orientar os beneficiários para que eles possam entender sobre o que estão contratando e como melhor utilizá-lo. Quanto mais conhecimento sobre o sistema de saúde privado, o papel da ANS, os números do setor, as previsões do Rol de Procedimentos, as causas de Judicialização e o papel das ouvidoras, mais dados os corretores terão para orientar e tornar-se parceiro do setor.

O evento reuniu milhares de profissionais do mercado segurador e contou com a participação das principais lideranças do setor. No painel sobre saúde suplementar, a presidente da Federação dividiu o palco com Ariovaldo Bracco, representando a comissão de Saúde do Sindicato dos Corretores de São Paulo (Sincor-SP); Cássio Zandoná, diretor nacional de Vendas da Amil, e Raquel Giglio, diretora Técnica e de Relacionamento com Clientes da SulAmérica Saúde. Simone Martins, segunda vice-presidente do Sincor-SP, foi a mediadora do debate.

Sustentabilidade – Em sua apresentação, Cássio Zandoná, alertou que antes de crescer o setor precisa sobreviver. “Temos uma receita de país em desenvolvimento com custos de primeiro mundo. O desafio é fazer mais, por menos. É preciso vencer a guerra contra o desperdício”.

De acordo com o médico, 70% dos exames apresentam resultados normais e 30% dos pacientes não buscam os resultados dos seus exames. “A sustentabilidade do setor passa pela medicina de qualidade, por isso a importância do atendimento primário com uma equipe focada na saúde. Além disso, novos produtos como franquia e participação podem ser uma saída porque agregam responsabilidade ao consumidor”, explica Zandoná.

Judicialização – Segundo Raquel Giglio, entre 2010 e 2016, houve um aumento de 736% em Judicialização no setor de saúde. São 220 mil novas ações por ano. Atualmente são 110 milhões de processos em andamento no Brasil. Ainda de acordo com Raquel, uma pesquisa de um hospital de São Paulo, realizada entre 2011 a 2012, apontou que entre 500 pacientes com diagnóstico de indicação de cirurgia apenas 41% tiveram a necessidade do procedimento confirmada.

Para Raquel, a solução desse problema está na especialização de juízes em saúde, na criação de bancos de dados específicos para dar mais conforto às decisões jurídicas e, também, na necessidade de valorizar os Núcleos de Apoio Técnico (NATS) nos quais especialistas médicos ajudam os juízes no entendimento das ações.

“O juiz precisa do apoio da sociedade e do setor de saúde. Esse tema é extremamente relevante. Não é um problema só das operadoras, nem só do SUS, é de toda população. Porque cada procedimento, cada medicamento que é judicializado, volta depois na precificação de tabelas de vendas e nos reajustes. O recurso que se tem tanto no público quanto no privado é finito e a sociedade precisa saber aplicar da melhor forma possível”, comenta a diretora Técnica e de Relacionamento com Clientes da SulAmérica Saúde.

Oportunidades – Ariovaldo Bracco defendeu que o produto saúde exige profissionalização do corretor que deve estar qualificado para atender o cliente. “O corretor deve ser um empreendedor e estar sempre atento as novas oportunidades de negócios. A maior contribuição do corretor para que a saúde tenha remédio é conhecer o produto para orientar o beneficiário corretamente”, afirma.

Simone Martins completa dizendo que os corretores de seguro têm um nicho muito importante na área de seguro saúde. “É importante saber diversificar a carteira porque este é um ramo de muita rentabilidade e tem uma administração tranquila”.

No final do debate, a afirmativa inicial de Solange Beatriz foi apoiada pelo público. Uma enquete realizada durante o painel revelou que 80% dos participantes consideraram que a saúde tem remédio.