Nos dias 23 e 24 de agosto, aconteceu no Hotel Renaissance em São Paulo, o 23º Congresso Abramge | 14º Congresso Sinog – Saúde Suplementar: Desafios e Perspectivas. Com a presença de cerca de 400 pessoas, o tema do congresso desse ano foi A Integração dos Stakeholders, trazendo expectativas dos diferentes atores da saúde suplementar (Governo, médicos, hospitais, indústria e operadoras de planos de saúde). Dentre os diversos temas debatidos, estão assuntos como judicialização da saúde, compliance e modelo de remuneração. Ao final das apresentações, cada palestrante ainda respondeu dúvidas do público, enriquecendo ainda mais as conversas.

Abrindo o palco do congresso, o presidente da Abramge Reinaldo Scheibe deu boas-vindas aos presentes, agradecendo a presença de todos e defendendo a importância do tema dessa edição do Congresso. Lembrou que no ano passado os principais CEOs de operadoras de planos de saúde vislumbraram as probabilidades do setor para os cinco anos seguintes e, que agora, era o momento de trazermos para essa fundamental e complexa discussão as expectativas dos demais atores, com os quais a saúde suplementar se completa.

Iniciando a primeira apresentação do dia, o Presidente da República Fernando Henrique Cardoso traçou um panorama político do país. Apesar dos problemas evidentes, a saúde do Brasil evoluiu positivamente com o tempo, tanto no setor público quanto privado. Definiu o presente como um momento de angústia, resultado da soma de incertezas, da crise e das descobertas constantes de corrupção. Em sua opinião, é preciso uma liderança com senso comum, pois a fragmentação partidária dificulta ainda mais a governabilidade. Sobre as eleições, lembrou da necessidade de se observar os candidatos com atenção: “não será fácil, mas precisamos de mais união e menos ódio. Ganhe quem ganhar, devemos acreditar na recuperação do país”.

Fabrício Campolina, Coordenador do Grupo de Trabalho de Modelos de Remuneração do ICOS – Instituto Coalizão Saúde, trouxe a visão da Indústria de Produtos para a Saúde. Em seu discurso, debateu o necessário equilíbrio entre três frentes: a percepção do cidadão quanto à experiência assistencial; a prevenção de tratamentos apropriados que proporcionem desfechos clínicos de alta qualidade; custos adequados em todo o ciclo de cuidado, permitindo a sustentabilidade do sistema de saúde.

Em sua palestra, o Diretor de Mercado e Assuntos Jurídicos da Sindusfarma, Bruno César Almeida de Abreu, colocou em pauta a Indústria Farmacêutica. Seus dados apresentaram a “confusão tributária” gerida no Brasil. “Essa ‘confusão’ gasta tanto tempo e dinheiro que é um dos principais motivos dos elevados preços do produto final”, avalia. Outros fatores que inflacionam o mercado são a pesquisa e os testes necessários para a criação de drogas, junto com o aumento da energia elétrica.

Para expressar a perspectiva dos clientes, tivemos duas apresentações: de Emanuel Lacerda, Gerente-executivo de Saúde e Segurança na Indústria do SESI – Departamento Nacional, e de Márcia Agosti, Gerente de Saúde GE do Brasil. Emanuel Lacerda exibiu a agenda do contratante, desmembrada em gestão de tecnologias; base de dados; remuneração baseada em valor; atenção primária; regulação dos contratos; negociação coletiva com prestadores e operadoras. Em seguida, Márcia Agosti apresentou dados sobre o uso dos planos de saúde, salientando a importância de aumentar conversas entre as operadoras e os contratantes para, juntos, trabalharem em melhorias.

Martha Regina de Oliveira, Diretora-executiva da ANAHP – Associação Nacional de Hospitais Privados – deixou uma interessante provocação dividida em quatro questionamentos. Em primeiro lugar, o quanto a desconfiança custa no setor da saúde; também a troca de mindset necessária em relação à mudança que vem de forma positiva e não negativa. Ademais, como preparar o futuro fazendo o presente. E finalmente, sobre o Mundo 4.0, como a saúde não “domina” mais a saúde.

Conselheiro Efetivo do Conselho Federal de Medicina, o Doutor Salomão Rodrigues Filho trouxe para discussão a importância do diálogo entre três partes: o paciente (consumidor), o médico (prestador) e a operadora (administrador). Com a analogia de um banquinho mineiro de três pernas, falou da importância dos atores da saúde suplementar estarem equilibrados, bem distribuídos, pois caso um desses suportes falhe, o banco cai e todo o setor sofre. Também foi citada a matéria da MedScape, que traz dados alarmantes de suicídios entre médicos, ressaltando a preocupação com a saúde psicológica da classe.

Sócio/Diretor da Monitor Saúde e Consultor de Projetos da FIPE, Januário Montone começou sua fala com a frase de Guimarães Rosa: “O sapo não pula por boniteza, mas porém por precisão”. Ele traçou a evolução do sistema público de saúde, desde 1923. Citou os problemas atuais do sistema SUS, dentre eles a via crucis do paciente para conseguir uma operação, tendo que passar por várias consultas e exames redundantes ou desnecessários. Obstáculos como o aumento da judicialização, a desigualdade de acesso, duplicidade e desperdícios podem e devem ser debatidos na aproximação do setor público com o setor privado. “Sendo assim, temos muito o que trabalhar para dar o pulo preciso do sapo de Guimarães”, finalizou.

Para a Conferência de Encerramento, a Economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif apresentou um panorama econômico do Brasil no cenário mundial. Dentre os dados discutidos, foi colocado em pauta a difícil agenda de ajustes estruturais e a preocupação com as reformas necessárias. O fim do bônus demográfico e a produtividade estagnada são variáveis negativas que devem entrar na equação. “Em vista da eleição presidencial tão próxima e tão peculiar sem favoritos claros, o candidato vencedor terá um grande desafio para melhorar o estado econômico. Como eleitores, devemos escolher aquele que pode melhor desempenhar esse papel”, aconselha.

Concluindo o evento, o presidente do Sinog Geraldo Lima, agradeceu a todos que puderam estar presentes nestes dois dias, participantes, palestrantes, patrocinadores, fornecedores e apoiadores, sem os quais não seria possível a realização de mais este Congresso. “Em todas as apresentações, notamos palavras recorrentes como cooperação, colaboração e parcerias, que refletiram o cerne da edição Integração dos Stakeholders. Possibilitando muitas reflexões, ficou clara a importância da sinergia entre os atores do setor para trabalharem juntos em soluções e melhorias conjuntas”.