O economista de Saúde e Desenvolvimento Social do Banco Mundial, André Medici, foi um dos palestrantes do XIII Congresso Nacional de Operadoras Filantrópicas de Planos de Saúde, que aconteceu nos dias 25 e 26 de julho, em São Paulo. O especialista abordou o cenário mercadológico da saúde no Brasil, apontando gargalos, o impacto da crise econômica e da política sobre a Saúde.

Em entrevista à Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos (CMB), André Medici disse que existe uma grande ineficiência e desperdício no gasto público, além do subfinanciamento. “Tenho sempre dito que o Brasil precisa mudar sua lógica de elaboração e gestão do orçamento, passando da formulação dos chamados orçamentos históricos, para orçamentos baseados no desempenho e na performance, os quais seriam formulados segundo prioridades reais, objetivos e metas a serem cumpridas, com estímulos fiscais para os setores que cumprirem as metas. Mas isso ainda é uma utopia na realidade brasileira”, considerou.

O economista ressaltou que o maior problema do mercado de saúde brasileiro é a total falta de gestão, articulação, coordenação e planejamento. Segundo ele, o governo possui uma grande máquina administrativa da saúde, mas é incapaz de coordenar todos os órgãos e entidades para que a entrega de serviços seja mais eficiente. “Com isso se criam duplicações de cobertura entre a saúde suplementar e o SUS, gerando desperdícios e aumentando a ineficiência e a inequidade do setor”, disse.

O financiamento do SUS, segundo o economista, deveria ser destinado para quem não tem recursos para pagar por um plano de saúde. Segundo ele, antes da crise deflagrada em 2014, a maior parcela do financiamento da saúde (cerca de 30%) vinha do orçamento das famílias. “Atualmente essa proporção pode ser muito maior, pois as necessidades de saúde tendem a ser inelásticas e se o setor público ou a saúde suplementar não garantem o financiamento, como ocorre nos momentos de crise, as famílias tendem a pagar de seu próprio bolso”, afirmou.

A eficácia do financiamento, por sua vez, só será possível se houver uma reforma política que envolva uma nova relação entre o Poder Executivo e o Legislativo, responsabilizando parlamentares e governantes por suas escolhas, atos administrativos e resultados, fazendo com que as escolhas públicas sejam mais adequadas para a população. Medici acredita que pela forma como o setor público brasileiro se organiza, ainda que o financiamento da saúde seja ampliado, não será suficiente, pois “qualquer recurso adicional que se coloque acaba vazando pelos ralos de ineficiência do sistema”. “Os problemas que se observam no SUS durante a crise apenas exacerbam tendências que já se colocam há algum tempo, em função de defeitos estruturais da forma como se organiza, tais como a falta crônica de planejamento e gestão, o crescimento do setor baseado mais no clientelismo político do que nas necessidades da população, a inequidade na forma pela qual os investimentos e os recursos de custeio do setor são distribuídos e a ineficiência de um setor que não se organiza para alcançar resultados, recompensar os sucessos e penalizar os fracassos”, argumentou.