A tecnologia pode promover um salto qualitativo na saúde de toda a população mundial, assegurando a cura de doenças e tratamentos mais assertivos. É possível até imaginar o estado de arte nesse campo, mas desvios éticos podem transformar soluções em problemas, exigindo, desde já, que a sociedade debata, com seriedade e serenidade, as escolhas de tecnologias que poderão ser incorporadas e leis para impedir ou punir desvios.

“O uso da tecnologia no estudo das doenças e na busca pelas suas curas”, foi o tema do primeiro painel do segundo (e último) dia do 13º Insurance Service Meeting, realizado pela CNseg, em São Paulo, simultaneamente ao 4º Encontro de Inteligência de Mercado, reunindo um cientista – Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); uma médica – Regina Mello, superintendente médica da SulAmérica Saúde; e um economista – Sandro Leal, superintendente de Regulação da FenaSaúde.

Steven Rehen, palestrante, antes de destacar o atual estágio da ciência e tecnologia voltadas para a área médica, elencou três fatores que precisam estar no radar da sociedade para que as perspectivas positivas se cumpram no campo da saúde: o combate ao aquecimento global e às desigualdades – “temos mais de 13 milhões de miseráveis no momento” – e a difusão do conhecimento científico, necessário para impedir, por exemplo, que as pessoas se recusem a tomar vacinas, gerando riscos adicionais para toda a população.

Em breve resumo das tecnologias disponíveis e do saber científico, Stevens Rehen deixou claro que a ciência tem um caráter estratégico para a saúde da população. Noites mal dormidas, comprovadamente, abrem as portas para doenças, como depressão, Alzheimer e demência, afetando a capacidade de aprendizado. Na alimentação, o comer regrado é também o caminho para ter um cérebro mais saudável. Daí porque é fundamental, na infância, oferecer uma gama de alimentos variados, para que, quando adultos, as pessoas façam melhores escolhas, evitando os alimentos processados.

Ao lado de comportamentos individuais mais adequados, alimentação balanceada e atividades físicas, a ciência pode dar contribuições vitais. Já é possível, a partir da urina ou da pele, criar novas células para o cérebro ou outros órgãos, incluindo-se aí espermatozoides, enumerou o cientista. Os transplantes fecais podem contribuir para reduzir o problema de obesidade e, o retorno da pesquisa psicodélica, ajudar milhões de pessoas que convivem com depressão ou outras doenças mentais.

A médica Regina Mello, debatedora, reconheceu que o avanço tecnológico cria novos paradigmas, ainda mais se as inovações forem usadas de forma ampla. Novos arsenais terapêuticos podem melhorar, de fato, a qualidade de vida das pessoas, mas a utilização precisará contar com um marco regulatório mais flexível, incluindo-se aí o compartilhamento de dados pessoais. Melhor ainda se as tecnologias que mudam a vida e a saúde forem partilhadas com todos, incluindo a população de baixa renda, mais propensa a adquirir doenças precocemente pela falta de informação ou recursos financeiros.

Há uma longa estrada para ser percorrida, mas saber que já existem terapias mais assertivas é um alento, reconheceu Sandro Leal, moderador do painel, ao destacar que o tema tratado foi muito proveitoso em criar insights para toda a cadeia de saúde.