Pode soar como um contrassenso, mas a sobrecarga nos leitos de UTI com casos de coronavírus não significa necessariamente que as contas dos hospitais vão bem. A recomendação da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) para que os hospitais priorizem o atendimento de pacientes com covid-19, e assim reduzam os procedimento eletivos, é um dos principais fatores para explicar uma redução prevista de R$ 13,1 bilhões na receita deste ano.

O diagnóstico foi elaborado pela Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) em parceria com a consultoria Compass. Ele aponta que a receita dos associados pode ter uma redução de 30% neste ano, passando de um cenário esperado de R$ 43,7 bilhões antes da pandemia para R$ 30,6 bilhões nas condições atuais – isto é, considerando a retomada dos procedimentos eletivos até junho. Os procedimentos eletivos representam cerca de 45% da receita e da ocupação dos hospitais, lembra a Anahp.

Apenas nos quatro primeiros meses deste ano, a redução da receita hospitalar atrelada ao aumento das despesas variáveis e manutenção das despesas fixas gerou um resultado financeiro 25,67% menor, quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Aliado ao cenário de queda da receita, o setor está diante de um aumento significativo nos preços de insumos, como equipamentos de proteção individual (EPIs), que ultrapassou 500% de alta, e no aumento expressivo do consumo desses EPIs, em mais de 200%.

Ao longo dos últimos anos, os hospitais têm registrado aumento da receita bruta, o que impacta significativamente em geração de emprego, investimentos em novas tecnologias, pesquisas e tratamentos. Em 2019, os hospitais associados da entidade atingiram a casa de R$ 40,1 bilhões, um crescimento de 3,88% comparado ao ano anterior. O valor representa 24,2% do total das receitas hospitalares do sistema suplementar. Os números fazem parte do Observatório 2020, um anuário que reúne indicadores de 119 instituições privadas em todo o Brasil.