Numa relação de 250 países, apenas 28 têm população superior ao número de beneficiários de planos privados de assistência médica no Brasil. Um cenário de primeiro mundo festejado até pouco tempo quando a classe média crescia em céu de brigadeiro, mas ultimamente em processo acelerado de desconstrução refletindo a crise da economia. Nessa contagem que pode ser conferida em dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) fica-se sabendo que o desemprego em alta e a queda de renda espantam os usuários de planos de saúde e que em Pernambuco havia menos 33 mil em junho.

A evidente relação entre a crise no bolso e a saúde das pessoas não esgota nem de longe as dificuldades no atendimento do que deveria ser um direito de todos e dever do poder público, como manda a Constituição Federal. O problema pode ficar mais complicado com o risco de subfinanciamento do Sistema Único de Saúde e criação de planos populares, segundo denunciam o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Essas entidades dizem que esses planos cogitados pelo Ministério da Saúde visam apenas beneficiar um setor que movimenta R$ 125 bilhões por ano e não irão cobrir os tratamentos mais caros e complexos, excluindo os doentes crônicos e idosos, que irão buscar atendimento no SUS.

A leitura do gráfico das doenças da economia e mazelas dos planos de saúde realça a semelhança de linhas decrescentes rigorosamente iguais. Se a economia vai mal, tudo mais segue o mesmo caminho, inclusive o atendimento à saúde. Chama atenção na queda do número de usuários o desconforto que isso representa na avaliação da qualidade de vida da população, como se estivesse atrelada à qualidade do serviço privado de saúde, ou seja: quem não tem plano privado não tem qualidade de vida. Fosse cumprida a maior lei do País, contudo, as dificuldades mostradas pela ANS não teriam qualquer importância. Isso, claro, se fosse cumprido o mandamento constitucional de atendimento universal e gratuito.

Como esse dispositivo legal continua no plano das intenções, ganha destaque a preocupação com os planos de saúde, cuja sobrevivência não se deve apenas à crise conjuntural da economia. Isso tem levado analistas a olharem para outros lados do problema. Um desses lados é o encarecimento dos planos pelo uso de tecnologia sofisticada e cara até para países mais ricos. Outro lado é o mesmo da Previdência Social, o envelhecimento da população. Teoricamente os jovens que custam menos em assistência médica suplementar garantiriam o atendimento dos mais velhos, que representam mais gastos para as operadoras. Com o crescimento do número de idosos, sobem os custos dos planos e cai o número de usuários, uma equação que exige soluções pouco ortodoxas, como a urgência de se investir mais em medicina preventiva, tirando o foco exclusivo de doenças e tratamentos.