O presidente da Associação Latino-Americana dos Sistemas Privados de Saúde (Alami), o argentino Hugo Magonza, diz que a escalada dos custos de planos de saúde é uma preocupação em toda a América Latina. Para enfrentar esse desafio, Magonza defende a adoção de franquia e coparticipação para conter abusos e desperdícios. Ele afirma , porém, que esses mecanismos devem ser adotados junto com protocolos claros de atenção primária. “Se for empregado para a pessoa não usar o plano, não funciona”, diz.

Quais são as diferenças e semelhanças na configuração da saúde suplementar na América Latina?

O México tem um sistema muito vinculado às seguradoras de saúde. Colômbia, Republica Dominicana e Chile têm definições bastante claras de cobertura. Brasil e Argentina têm rol muito grande de cobertura. Os sistemas mais liberais são os de Paraguai e Uruguai. Nesses dois países, os planos privados são totalmente liberados para estipular cobertura e preços. Há agências reguladoras em praticamente todos os países, mas elas são muito diferentes.

A discussão sobre controle de custos no Brasil está na agenda de outros países da América Latina?

Sim. Os custos de saúde estão ligados ao envelhecimento da população e a melhoria na atenção médica, tanto privada, quanto pública. Hoje, com o diagnóstico precoce das doenças e a esperança de prologamento da vida, o custo é muito mais alto. Uma pessoa com 90 anos gasta, em média, 13 vezes mais em saúde que outra na faixa dos 40 anos. Por outro lado, a população, principalmente dos países mais desenvolvidos, tem reduzido o número de filhos e a pirâmide populacional vai se achatando, diminuindo quem poderia ajudar a financiar os mais velhos, como ocorre com a Previdência. Outra questão é a incorporação de tecnologias, que tornam o tratamento mais prolongado.

O que o senhor acha que pode ser feito para reduzir essa escalada de custos?

A mudança no marco legal, em discussão no Brasil, no Chile e na Colômbia, contempla a proposta de adoção de franquia e coparticipação. São mecanismos para frear gastos eletivos, para evitar abusos no sistema, e se aplicam em vários países. Mas se for empregado para a pessoa não usar o plano, não funciona. Por isso, é importante um protocolo claro de atenção primária. O sistema pode fracassar se não houver modelos transparentes. Somos prestadores e financiadores e investimos muito dinheiro. Em alguma medida, somos também responsáveis pelo aumento dos custos.