A queda na taxa de ocupação dos hospitais privados e esvaziamento de clínicas e consultórios, reflexos da pandemia da covid-19, já levaram o setor de serviços de saúde a demitir ao menos 20% dos funcionários em todo o Estado. “As medidas de contenção da covid-19 levaram ao cancelamento de cirurgias e consultas, aliadas à suspensão das cirurgias eletivas, causando o esvaziamento de hospitais e clínicas… com isso, caiu as receitas, o que leva ao corte de gastos e demissões”, explica o presidente da Fehospar (Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Paraná), Rangel da Silva.

Rangel afirma que a taxa de ocupação dos hospitais está, em média, abaixo dos 50% no Paraná e as receitas tiveram queda de cerca de 60%. “A operação com taxa de ocupação reduzida não diminui os custos fixos das unidades e, com isso, a situação fica insustentável e as demissões são inevitáveis. Não só nos hospitais, como nas clínicas e em consultórios não há pacientes. O corte de pessoal no setor já é de 20%, mas deve chegar a 30% nos próximos meses”, lamenta o presidente.

Segundo ele, nos hospitais a maior parte das demissões possíveis já ocorreu, uma vez que é preciso manter um número mínimo de profissionais para que os setores funcionem, mas, nas clínicas e nos consultórios, os cortes devem aumentar, especialmente aqueles que dependem quase que exclusivamente de procedimentos eletivos.

Segundo a Secretaria de Saúde do Paraná, a demanda por atendimentos do SUS caiu 35% nos hospitais do Estado. Por cirurgias eletivas, a queda foi de 90%. Mesmo assim, os hospitais estão recebendo o contrato integral e ainda tendo esse incremento.

Prejuízo milionário X ajuda do governo

Em Cascavel, ainda não há registro de demissão em massa. As administrações têm buscado alternativas, como redução de carga horária e antecipação de férias, para evitar cortes. Mas as contas continuam não fechando. A reportagem apurou que em alguns hospitais privados o prejuízo mensal já ultrapassa os R$ 2 milhões.

Para tentar amenizar os prejuízos e evitar que instituições fechem, entidades como a federação e o sindicato têm se unido para encaminhar ao governo do Estado pedidos para auxiliar na redução dos custos fixos. “Fizemos pedidos ao estado para isenção de taxas de luz e água e isenção ou mesmo prorrogação do ISS [Impostos sobre Serviços]… essas medidas já ajudariam a aliviar um pouco as contas. As taxas de água e luz representam de 2 a 3% das despesas, qualquer ajuda nesse momento é bem-vinda para o setor”, reforça Rangel da Silva.

Para as santas casas e os hospitais filantrópicos, o governo federal deve enviar, em duas cotas, ajuda de R$ 21 bilhões dividida para todo o País, valor que deve aliviar momentaneamente a situação dessas instituições.

Afastamentos preocupam

O presidente da Fehospar, Rangel da Silva, cita ainda outra preocupação relacionada aos trabalhadores do setor de saúde. “Temos hoje cerca de 10% dos trabalhadores da área no Estado afastados, com suspeita ou confirmação da covid-19, ou ainda que tenha algum familiar infectado. A nossa preocupação é com o aumento desse número e com a possível desassistência de servidores em alguns setores”.

A preocupação é maior com o crescimento dos casos de covid-19 no Estado, que dobraram em uma semana e devem seguir crescendo, uma vez que não parece ter chegado o pico da pandemia.

Planos de saúde também sofrem

Os reflexos da pandemia já atingem os planos de saúde, que vêm perdendo clientes, tanto por conta da inadimplência quanto pelo cancelamento.

Um projeto de lei que prevê a proibição do corte do plano de saúde para inadimplentes está em tramitação, mas a aprovação da proposta pode agravar a situação. “Essa aprovação deixaria a situação caótica… os clientes podendo usar o plano mesmo sem pagar as mensalidades… isso faria com que o pagamento de fornecedores, médicos e hospitais também fosse prejudicado e a situação ficaria insustentável. O fortalecimento das instituições privadas do setor de serviços de saúde como um todo precisa ser fortalecida, pois isso evita com que mais pessoas tenham que depender do SUS (Sistema Único de Saúde), que não suportaria aumento de demanda”, complementa Rangel da Silva.