A saúde suplementar vive a sua maior crise, desde que foi regulamentada pela Lei 9.656, em 1998. Em 12 meses, fechados em junho, 1,64 milhão de pessoas deixaram de ser usuários de planos de saúde. O encolhimento do setor, certamente, reflete a crise econômica do país e seus 11 milhões de desempregados. Mas não é só isso. Há tempos usuários e operadoras travam um cabo de guerra em relação a amplitude da cobertura dos planos e os reajustes. O que resultou em judicialização e na quase extinção da oferta de planos individuais, que tem os aumentos anuais controlados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Este cenário, de insegurança econômica e jurídica para ambas as partes, consumidores e empresas, foi agravado pela a quebra da Unimed Paulistana e a crise financeira da Unimed Rio, ambas grandes comercializadoras de planos individuais. Atualmente, há 54 empresas em regime de direção fiscal e o mesmo número em liquidação extrajudicial pela reguladora.

Não há quem discorde que o momento é de repensar o sistema. No entanto, a questão é equalizar os interesses. Não à toa, a agenda da agência reguladora do setor se ocupa, neste momento, tanto de discutir novas formas de remunerar os serviços prestados pelas operadoras para promover saúde, quanto de novos modelos de planos para diversificar a oferta.

Segundo Ricardo Ramos, diretor da Abramge, associação de planos de saúde, de cada R$ 100 recebidos pelas empresas, R$ 85 são gastos com assistência médica. Descontados ainda custos como impostos e administrativos, diz Ramos, não sobra praticamente nada. A sustentabilidade é afetada ainda, diz, pelo envelhecimento da população.

— Todo mundo vai ter que mudar e ceder alguma coisa — acredita.

Para Elici Bueno, não há dúvida, que o setor público está em crise. Já sobre o setor privado, ela avalia que a questão não é falta de dinheiro:

— Se fosse tão deficitário como querem nos fazer acreditar, uma gigante americana do setor não teria entrado no Brasil há quatro anos. Tudo indica que esse setor, tem sérios problemas de gestão, de transparência e sofre fraca fiscalização.

Segundo fonte próxima ao debate sobre a nova regulamentação, o setor precisará trabalhar com mais transparência e ter mais atenção com a saúde básica dos usuários. Por outro lado, acrescenta, o consumidor terá que entender que a cobertura de cada plano é limitada e o custo que implica cada procedimento agregado. Será necessário, diz, mudar a forma de oferta e de consumo da saúde suplementar.