Quando se fala em saúde, todo cuidado é pouco. Tenho o mais profundo respeito pelos profissionais de saúde pública do Brasil, fruto da convivência, como publicitário, atendendo à conta do Ministério da Saúde por uma década. Há pessoas realmente dedicadas, técnicos de extrema competência, que lutam contra as adversidades econômicas e as ingerências políticas para cuidar dos brasileiros.

Nossos programas de combate ao tabagismo, campanhas de vacinação e prevenção à Aids são alguns dos exemplos em que o Brasil é modelo para o mundo. As pesquisas de avaliação sobre a saúde pública brasileira mostram que quem avalia mal é exatamente quem não usa diretamente os serviços públicos e se refere sempre às “filas do SUS”.

Não estou, com isso, querendo dizer que tudo funciona às mil maravilhas no Brasil. Faltam insumos, falta gente, faltam equipamentos, falta estrutura, falta seriedade no uso dos recursos públicos. O fato é que administrar a saúde em um país cem vezes maior que Portugal, com vinte vezes mais gente, definitivamente não é para amadores.

Feito esse gigante, mas necessário, preâmbulo, é inevitável sentir um choque quando se depara com a saúde em Portugal. A começar pelos planos de saúde. O que eu pagava para minha família por mês no Brasil é o que eu pago aqui por ano. Isso porque, gato escaldado, não confiei que a saúde pública em Portugal funcionasse e preferi ter o conforto de um plano particular.

Se você liga para a central do plano, quem atende não é um(a) telefonista. Do outro lado da linha, está um profissional de saúde, que já vai passar as primeiras orientações dependendo de cada caso. É praticamente uma triagem médica por telefone. Detalhe: ligam de volta 24 horas depois para saber se está tudo bem.

Na saúde pública, a exemplo do que também ocorre no Brasil, há em Portugal um programa da família. Todos, inclusive nós, estrangeiros, devemos nos inscrever em uma unidade de saúde familiar próximo de nossas residências. É a ela que devemos recorrer nas pequenas situações do dia a dia. Programa de vacinação, consultas periódicas, é tudo na unidade de saúde familiar. Nas vezes em que tive que recorrer à minha unidade, fui atendido praticamente na hora.

Se a zebra é maior, você corre para o Hospital Público, onde o atendimento também não costuma demorar. Tudo limpo, organizado, dando a impressão de que estamos em uma boa unidade privada, a julgar pelas nossas referências brazucas. E no próprio site desses hospitais, é possível acompanhar real time os tempos de espera.

Fica a dica: brasileiros em viagem a Portugal podem contar com o PB-4, que é um acordo entre países por meio do qual podemos ser atendidos gratuitamente aqui. É preciso dirigir-se a postos específicos nas capitais do país para fazer esse documento. Rápido, seguro, com validade por um ano. Veja no link http://sna.saude.gov.br/cdam/.

Claro que ninguém quer usar, mas sem dúvida será uma experiência para você tirar suas próprias conclusões.

Para fechar o capítulo saúde, não podemos nos esquecer das farmácias. Em Portugal, não há aquelas 24 horas, como temos nas grandes redes de drogarias no Brasil. Ainda é o sistema antigo, de farmácias de plantão. Ou seja, à noite ou na madruga, você tem que caçar uma farmácia aberta ou procurar por meio de aplicativos. Não tem uma rua das farmácias, como em Brasília.

Por outro lado, não haverá um atendente tentando lhe empurrar um xaropinho ou uma vitamina, sugerindo remédios sem ter nenhuma formação para isso. Todos os balconistas nas farmácias em Portugal são farmacêuticos de fato. Perguntam se compreendemos a receita médica, a posologia, e se oferecem até mesmo para preparar as medicações que exigem isso, como antibióticos líquidos.

Com uma saúde de qualidade, o resultado só pode ser o que constatamos nas ruas de Portugal: uma grande população de idosos saudáveis, andando serelepes para lá e para cá.