A questão do reajuste dos planos de saúde e a dificuldade em transmitir à sociedade os reais fatores que determinam os índices de aumento foram o foco das discussões no “2º Encontro de Comunicação da Saúde Suplementar”, realizado pela Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), em 18/04, em São Paulo.

Com uma plateia formada por profissionais de comunicação, diretores das empresas associadas à FenaSaúde e jornalistas especializados e renomados, o encontro teve como finalidade dar mais transparência às discussões em torno do reajuste, calculado a partir da variação dos custos médicos e hospitalares. O índice é divulgado anualmente, geralmente no mês de maio, pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Na abertura do evento, o presidente da Comissão de Comunicação da FenaSaúde, João Alceu Amoroso Lima, reconheceu que o tema do reajuste dos planos é “ácido”, porque o índice normalmente atinge a casa dos dois dígitos, enquanto a inflação oficial da economia fica bem abaixo disso – próximo a 3% atualmente. De acordo com ele, esse gap não acontece só no Brasil, mas em todos os países. Por isso, afirmou, a sociedade “cobra uma satisfação”, e o objetivo do Encontro era esclarecer e debater com os jornalistas o entendimento sobre o assunto.

O presidente substituto da ANS, Leandro Fonseca, disse que a Saúde Suplementar é um setor fundamental para a economia do país. O grande desafio da saúde, segundo ele, é o financiamento dos produtos, sejam públicos ou privados. Fonseca lembrou que o índice de reajuste dos planos está em dois dígitos há muitos anos e que é preciso ampliar o debate sobre como tornar o acesso à saúde sustentável e adequado, arrefecendo os custos do setor.

Em sua palestra, o diretor-executivo da FenaSaúde, José Cechin, explicou que a inflação oficial da economia resulta da variação de preços de uma cesta de produtos definida pelo IBGE, para diferentes cestas de bens e serviços, ao passo que no reajuste dos planos de saúde levam-se em conta tanto os aumentos dos custos médico-hospitalares quanto a frequência dos procedimentos, isto é, a quantidade por beneficiário, tais como exames, consultas e internações. Entre os custos médico-hospitalares figuram novas tecnologias, a ampliação do rol mínimo obrigatório de procedimentos e os materiais especiais. Outro fator que pressiona os custos do setor são as demandas por liminares judiciais. Para Cechin, o modelo perfeito de reajuste, se existisse e fosse encontrado, continuaria produzindo índices altos de  reajuste se não se alterarem os propulsores de despesas.

Por sua vez, o superintendente executivo do Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS), Luiz Augusto Carneiro, apresentou uma pesquisa inédita sobre a variação dos custos médico-hospitalares (VCMH) no Brasil e no mundo. Segundo o estudo, que analisou os dados de três das principais consultorias que apuram o comportamento do setor (Aon Hewitt, Mercer e Willis Towers Watson), no Brasil a VCMH é, em média, 3,4 vezes a inflação geral, o que não representa uma anormalidade, já que outros países têm média superior a isso, como Canadá, China e EUA. A maior variação no Brasil, de acordo com ele, está vindo das despesas com internação médica. “Metade das despesas se deve a internações”, disse.

Já o gerente geral de Regulação da Estrutura dos Produtos da ANS, Rafael Vinhas, disse que a agência tem a preocupação de melhorar a metodologia de aferição dos custos. “A discussão sobre o financiamento do setor é extremamente relevante e deve ser feita desde já.”

A seguir, o jornalista Ascânio Seleme, colunista de O Globo, destacou a importância de uma comunicação clara e objetiva com a imprensa por parte das empresas. “O jornalista quer transparência”, disse.

A última palestra foi da jornalista Mara Luquet, do site My News, que comentou uma entrevista feita com a executiva Carolina Mazza, da Mercer. Carolina apontou que no mundo inteiro empresas globais estão montando seus próprios planos para gerir o custo da saúde de seus funcionários. Segundo Mara, os jornais deveriam, em vez de simplesmente noticiar o reajuste dos planos, explicar melhor os riscos reais à solvência das empresas e de que forma os beneficiários devem lidar com sua operadora para obter mais informações.

Entre as palestras, o público, dividido em mesas-redondas de debates, discutiu os temas e apresentou suas opiniões e sugestões. Também no Encontro, Fernando Pesciota, diretor da CDN Comunicação, analisou a cobertura do reajuste dos planos feita nos dois últimos anos pela grande imprensa.

Ao final, o superintendente de Regulação da FenaSaúde, Sandro Leal, fez um resumo dos debates e disse que iria compilar as discussões. Ele agradeceu a presença de todos e os convidou a participarem do 4º Fórum de Saúde Suplementar, que acontecerá nos dias 22 e 23 de outubro, no Rio de Janeiro.