Os gastos globais com cuidados com a saúde devem aumentar a uma taxa anual de 4,1% entre 2017 e 2021, um avanço de 2,8 pontos percentuais ao se comparar com a média de 1,3% ao ano apurada de 2012 a 2016, de acordo com o estudo “2018 Global Health Care Outlook: The evolution of smart health care”, produzido pela Deloitte. O envelhecimento e o crescimento da população, os avanços na expansão do mercado, os progressos nos tratamentos médicos e o aumento dos custos trabalhistas com profissionais da área tendem a impulsionar o crescimento com esses dispêndios.

No entanto, o relatório destaca que os gastos mais elevados nem sempre vão gerar melhores resultados e maior valor para a saúde. Segundo o estudo, existem oportunidades significativas para que os interessados em cuidados com a saúde trabalhem de modo colaborativo, com modelos inovadores de acesso, entrega e financiamento para reduzir os custos com cuidados para a saúde e aumentar a qualidade dos serviços.

“Com a alta dos custos e a redução das margens de lucro, o setor de cuidados com a saúde busca maneiras inovadoras e econômicas de oferecer a qualidade, os resultados e o valor que os consumidores procuram”, afirma Terri Cooper, líder global do setor de Health Care da Deloitte. “Os avanços tecnológicos em cuidados com a saúde, focados no paciente, podem ajudar os profissionais da área a trabalhar de maneira mais inteligente e eficiente.”

No Brasil, a área de saúde acompanha as tendências e encara praticamente os mesmos desafios apurados na pesquisa global. O setor privado de seguros de saúde, por exemplo, perdeu aproximadamente 2,5 milhões de beneficiários entre 2014 e 2016, devido ao avanço do desemprego no país. Além disso, empresas de todos os setores tiveram que alterar benefícios de saúde de seus colaboradores para versões mais restritivas, com o objetivo de reduzir despesas com esse benefício.

“Essa perda já registrada pelo setor privado é uma oportunidade para os atores da cadeia inovarem e buscarem novos modelos de acesso baseados em cuidados inteligentes que permitirão oferecer serviços focados individualmente no paciente, com melhor relação custo-benefício, aumentando a produtividade, a eficiência, a velocidade e a conformidade dos protocolos assistenciais”, afirma Enrico De Vettori, sócio-líder da Deloitte Brasil para o atendimento às empresas dos segmentos de Life Sciences & Health Care.

Desafios

O fornecimento consistente de cuidados inteligentes para a saúde em todo o mundo não será fácil, dadas a magnitude e a complexidade desses serviços em nível mundial, segundo avalia Stephanie Allen, líder global de Public Sector Health & Social Servicesda Deloitte. “Isso exigirá que sejam desenvolvidas políticas, processos e capacidades com foco no alcance de cuidados de alto valor, reduzindo o desperdício e os custos.”

Este ano, individual ou coletivamente, os stakeholders da área de cuidados com a saúde provavelmente enfrentarão uma série de desafios existentes e emergentes em sua busca para desenvolver um setor mais eficiente e inteligente:

  • Gerando valor em uma economia de saúde incerta e em transformação: É provável que os fornecedores de cuidados com a saúde continuem convivendo com margens de lucro reduzidas e aumento dos custos. Espera-se que, até 2020, as despesas associadas a cuidados com a saúde nas principais regiões do mundo deverão chegar a US$ 8,7 trilhões, quase 25% acima dos US$ 7 trilhões registrados em 2015. Para compensar a redução de margens, muitas organizações de cuidados com a saúde buscam novas medidas de redução de custos e exploram novas fontes de receita.
  • Mudança estratégica – sai a reação, entra a prevenção: O setor de cuidados com a saúde continua em sua transição de um modelo de remuneração baseado no princípio do reembolso de taxas de serviços para outro que considera pagamentos baseados em resultados e valores. Nos sistemas avançados de saúde, os stakeholders do setor têm defendido uma mudança da atuação voltada ao tratamento, como ocorre atualmente, para a adoção do princípio da prevenção. Isso tem resultado em uma mudança de percepção, pela qual os “pacientes” passam a ser entendidos como “consumidores de cuidados com a saúde”, pessoas informadas e capacitadas a lidar com suas próprias necessidades. Uma transição bem-sucedida a esse novo modelo exige dos stakeholders – incluindo os consumidores – superar a noção de “cuidados com a saúde”, adotando os princípios da “saúde holística”, assim como a ideia focada no “tratamento” deve evoluir para a da “prevenção e bem-estar”.
  • Respondendo a políticas de saúde e a regras complexas: Os recentes ataques cibernéticos – que afetaram especialmente empresas e organizações da área de saúde – têm estimulado as discussões sobre questões relacionadas à segurança cibernética e ao gerenciamento de riscos de dados. A atenção à saúde digital está criando desafios para governos, sistemas de saúde e seguradoras, que devem coletar, analisar e armazenar quantidades cada vez maiores de dados. Enquanto as políticas, leis e regras governamentais procuram fortalecer a segurança e a proteção dos cuidados com a saúde no nível macro, as organizações individuais precisam concentrar a atenção executiva em compliance, ética e riscos.
  • Investir em tecnologias exponenciais para reduzir custos, ampliar o acesso e melhorar os cuidados: Tecnologias exponenciais têm ajudado na redução de custos de assistência, tornando os serviços mais eficientes e acessíveis em nível mundial. As tendências demográficas e econômicas, aliadas às novas tecnologias, podem ter implicações significativas sobre a forma como os hospitais do futuro serão equipados, dimensionados e projetados. Portanto, os stakeholders devem pensar em como planejar investimentos estratégicos em recursos humanos, em processos e em instalações habilitadas por tecnologias digitais.
  • Envolver-se com o consumidor e melhorar a experiência do paciente: Para os consumidores, a oferta de atendimento personalizado pelos fornecedores da área de saúde é uma prioridade, e a tecnologia permite que os clientes sejam cada vez mais ativos no processo de tomada de decisão. Fornecedores e provedores de serviços devem capitalizar as tendências digitais para oferece cuidados mais personalizados, melhorar a comunicação com os consumidores e elevar o ciclo de vida da experiência do paciente (envolvendo pesquisa, diagnóstico, tratamento e acompanhamento).
  • Formar a força de trabalho do futuro: Diante da chamada “quarta revolução industrial”, a tecnologia digital, a robótica e outras ferramentas automatizadas têm enorme potencial para resolver alguns dos atuais e futuros problemas de saúde dos trabalhadores. O futuro do trabalho representa uma grande oportunidade para aliviar as preocupações e desenvolver melhores formas de atendimento. As organizações do setor de cuidados com a saúde têm a oportunidade de ajudar a estimular a união entre talento e tecnologia, coordenando recursos humanos e tecnológicos, em vez de deixar que essas forças apenas compitam entre si.