A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou, ontem, que o número de casos Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) teve “crescimento moderado” nas últimas três semanas. O fato, alertam os pesquisadores, indica reversão da tendência de queda verificada nos últimos meses. Como 96,5% desses casos são de covid-19, trata-se de um alerta sobre possível piora nas estatísticas da pandemia à frente.

“A mudança nos números de SRAG no país é apenas um sinal inicial e é preciso ainda aguardar as próximas semanas, mas já acende um alerta para a interrupção da queda de casos”, disse ao Valor o coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes.

O Boletim InfoGripe, divulgado ontem pela Fiocruz, mostra que no conjunto das últimas seis semanas, o chamado “longo prazo”, a curva de casos de síndrome respiratória ainda apresenta tendência de queda. Mas no curto prazo, ou seja, nas últimas três semanas, houve aumento.

No boletim, os pesquisadores constatam que a mudança nos indicadores de SRAG no país coincide um movimento em todos os Estados de afrouxamento das restrições ao funcionamento do comércio e dos serviços e à circulação das pessoas. Gomes lembra que o Brasil ainda está muito longe de ter um efeito significativo da cobertura vacinal contra a covid-19, uma vez que apenas 20% da população do país está totalmente imunizada.

Nesse corte temporal, a maior probabilidade de crescimento de casos, acima de 95%, aconteceu no Ceará. Depois, com mais de 75% de chance de ter experimentado alta de casos, aparecem os Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Acre, Pará e Rio Grande do Norte.

Outros 16 Estados tiveram estabilidade e somente Espírito Santo, Tocantins e Roraima assistiram a quedas nos casos de SRAG desde meados de julho, aponta o boletim divulgado pela Fiocruz. O cenário, afirmam os especialistas, indica “possível interrupção da queda” do número de casos de SRAG neste momento.

Por mais que poucos Estados indiquem forte crescimento de casos, os patamares permanecem elevados e a Fiocruz recomenda a manutenção de medidas para controlar a transmissão de síndromes respiratórias. Os pesquisadores lembram no boletim com, exceto por Roraima, todos os estados têm ao menos uma macrorregião com nível de transmissão alto ou superior.

O quadro das capitais é mais grave. São Paulo, Teresina e Maceió viram o número de casos subir no curto prazo e outras nove capitais registram sinal de estabilização nas tendências de longo e curto prazo, o que reforça a tese de interrupção da tendência de queda dos casos e indica um platô de transmissão. Entre elas estão Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Mesmo assim, das 27 capitais estaduais, aí incluído o plano piloto de Brasília, sete integram macrorregiões de saúde com nível de ocorrências “extremamente alto”, 11 se mostraram com nível “muito alto” e oito com nível alto. Por concentrarem grandes populações, segundo os pesquisadores, o quadro atual dos grandes centros vai manter o número de hospitalizações e óbitos altos, com risco de agravamento da situação nas próximas semanas caso medidas de mitigação da crise não sejam adotadas.