Apesar de a Hapvida ser alvo de denúncias por imposição do uso do kit covid (medicamentos sem eficácia contra o coronavírus) a pacientes contaminados, grandes gestores ainda não estão dispostos a abrir mão de ações da operadora de plano de saúde, a primeira de capital aberto a ser envolvida no escândalo. Em tempos de muita propaganda em torno das melhores práticas ESG (sigla em inglês para ambiente, sociedade e governança), os profissionais que cuidam do dinheiro dos investidores passaram a ser questionados se abririam mão das ações da Hapvida, investigada pela Agência Nacional de Saúde (ANS) e pelo Ministério Público, entre outros órgãos de controle. Em linha com o que pensa o mercado financeiro mais tradicional, a resposta foi não, ao menos por enquanto.

Respira. Para um gestor brasileiro com ações da Hapvida no portfólio, é preciso apurar o que ocorreu, antes de qualquer decisão. Desde a pressão com que todos trabalhavam no auge da pandemia à história que os fundadores têm como médicos, bem como a proposta de criação de um plano de saúde popular e inclusivo, tudo deve ser considerado.

Potencial. O fato é que a gigante do setor de saúde, que faturou R$ 8,5 bilhões no ano passado, tem se posicionado como consolidadora do mercado. Entre suas compras recentes, estão o Promed, por R$ 1,5 bilhão, e o Centro Clínico Gaúcho, por R$ 1 bilhão. Além, é claro, da maior operação do ano na área a aquisição da NotreDame Intermédica. O negócio deve criar uma empresa avaliada em mais de R$ 100 bilhões, com 8,3 milhões de clientes e 84 hospitais. Para financiar as aquisições, a Hapvida recorreu ao mercado e, em emissões recentes, levantou quase R$ 5 bilhões.

Lei. Nos primeiros dias de outubro, a ação da Hapvida caiu mais de 7%, enquanto o Ibovespa desceu 0,38%. O motivo não foram as denúncias, mas sim o fato de o negócio com a NotreDame enfrentar o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), após a superintendência do órgão declarar que o processo de fusão é “complexo”, e pedir mais tempo para análise.

Confiança. Tudo posto, o mercado espera as apurações mas jamais perder dinheiro. Para o gestor com uma fatia da Hapvida, é preciso considerar antes de sair a questão fiduciária com os investidores: vender ações, neste momento, representaria perdas para quem colocou os recursos em suas mãos.

Racional. Além disso, ele afirma ser mais correto e eficiente ajudar a empresa investida a melhorar em suas iniciativas ESG, do que puni-la com a retirada do capital. Bem como os milhões de usuários dos planos e os seus funcionários.

Oficial. Procurada, a Hapvida disse ter sido suficiente para esclarecer o mercado o comunicado de segunda-feira, no qual dizia que a recomendação ao kit covid havia sido feita apenas no início da pandemia, quando não havia unanimidade dos pesquisadores em torno do tema.