RIO – A filha de um paciente do Hospital Silvestre, em Santa Teresa, até recebeu um comunicado ao fazer a internação na unidade e chegou a ler avisos colados nos elevadores, alertando para golpes aplicados por telefone. Mas, preocupada com a piora do quadro de saúde do pai, não se deu conta de imediato que a ligação do “doutor Paulo Martins” era uma farsa. Ele alegava urgência para o pagamento de um procedimento, que seria reembolsado pelo plano de saúde. Por sorte, uma médica que acompanha a família impediu que caíssem no que está sendo chamado de “Golpe do Hospital”, um crime que se alastra em unidades públicas e particulares do Rio e de outros estados do país.

— Meu pai foi internado no dia 19 de novembro. Mas foi na terça-feira que recebemos a ligação. Coincidentemente, seu quadro havia piorado. Na verdade, ligaram para a casa da minha mãe e a empregada me repassou o recado. Eu liguei para o celular de um homem que se identificava como médico, Paulo Martins. Ele informou que os exames tinham constatado um quadro de pré-leucemia e que precisariam fazer novos exames, iriam submeter meu pai a uma medicação que deveria começar imediatamente — disse a filha do paciente, que prefere não ser identificada.

De acordo com a família, o suposto médico afirmou que o único horário disponível para a aplicação da medicação seria às 17h30m.

— Para agilizar, eu teria que fazer um depósito numa conta. Desconfiei quando ele disse que era do centro cirúrgico. Meu pai não estava nessa unidade. Também estranhei quando me perguntou qual a conta bancária de minha preferência para depositar R$ 2.438, com desconto. Pedi à médica da família para falar com ele e ela me retornou dizendo que se tratava de um maluco — contou a filha, que procurou a administração do hospital.

DESGASTE EMOCIONAL

Vários hospitais privados do Rio estão colocando comunicados em suas dependências para alertar a população sobre o golpe. No Hospital Unimed-Rio, os casos são acompanhados pela ouvidoria da unidade. De acordo com o diretor administrativo, Gabriel Massot, mesmo com todos os esforços, o crime persiste:

— Isso causa desgaste não só administrativo, mas principalmente emocional. Às vezes o paciente entende como má fé do hospital, que fica vendido. Tenho os prontuários eletrônicos travados, não deixo qualquer funcionário ter acesso aos documentos de pacientes. Mesmo assim, alguém consegue os dados. Parece que há uma quadrilha com contatos com funcionários de muitos hospitais, porque conseguem informações que são fechadas ao extremo.

Fazer a divulgação por meio de banners e comunicados informando sobre o golpe está entre as recomendações do grupo de trabalho constituído pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).

— As vítimas são sempre parentes que estão vulneráveis, em razão da gravidade do estado de saúde de seu parente. E, de fato, nem todo medicamento ou procedimento é coberto pelos planos. E há autorizações que às vezes demoram. Mas nossa principal recomendação é para o hospital informar aos pacientes que as unidades de saúde não cobram valores extras por telefone — explicou o presidente da Anahp, Francisco Balestrin.

Segundo ele, os hospitais também foram orientados a reforçar seus processos de segurança da informação:

— Verificou-se que, em alguns casos, os detalhes sobre os pacientes agendados para a realização de procedimentos foram repassados, de boa-fé, por atendentes que não estavam adequadamente preparados para lidar com essas demandas.