Em liquidação extrajudicial, a massa falida da Unimed Brasília está faturando bons negócios no mercado de saúde. A Rede D’Or São Luiz, o maior grupo independente de hospitais privados do país, comprou por R$ 35 milhões o prédio onde operava o Hospital Planalto, localizado na 914 Sul. A expectativa é de que o dinheiro seja usado prioritariamente para o pagamento de ações trabalhistas. Ao todo, o Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT-10) contabiliza 475 processos envolvendo a operadora.

O Hospital Planalto foi um dos mais tradicionais da capital federal. Desde dezembro de 2013, após anos de dificuldades financeiras, o centro hospitalar — que contava com seis salas cirúrgicas, 12 vagas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), 80 leitos e seis ambulâncias — fechou as portas, deixando 240 funcionários e 80 médicos desempregados. Nos dois anos, em que a unidade de saúde está em processo de liquidação, deixou na mão não apenas cerca de 9 mil beneficiários do Unimed Brasília, mas também credenciados a cooperativas da operadora e associados da Geap.

Em 2013, o hospital atendia, por dia, 450 pacientes, de acordo com levantamento feito à época pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Antes de fechar as portas, a unidade empregava 240 funcionários, número que foi reduzido a menos da metade no processo de falência. Em 2011, quando estava em pleno funcionamento, somava 700 empregados e possuía uma carteira de 20 mil conveniados, que dois anos depois já havia sido reduzida para 8,8 mil.

Além do Hospital Planalto, parte de outro edifício também incorporado à Massa Falida da Unimed Brasília está desocupada há três anos — são dois andares de um antigo hospital na 716 Sul. Os comerciantes do local, um prédio de seis andares, estão desanimados com o abandono. “Antes de a unidade falir, fazia uns R$ 400 em vendas por dia. Hoje, consigo no máximo R$ 100”, lamentou José Cosmo Gomes, 47 anos, que trabalha com bolsas e bijuterias.

Natural do Maranhão, Gomes está em Brasília desde 1989. Ele reconhece que a inflação está corroendo a renda das famílias, mas acredita que, se a Unimed Brasília não tivesse falido, mais pessoas circulariam na região, aumentando as chances do negócio crescer. “Nunca vivi um momento tão difícil em toda a minha vida. Às vezes até saio à procura de emprego, mas não acho. Então, continuo trabalhando por conta própria”, justificou ele, que tem encontrado dificuldades para pagar a prestação da casa própria na Cidade Ocidental (GO), de R$ 400.

Restrições

Os investimentos da Rede D’Or vão além de Brasília. O grupo comprou o Hospital Memorial, em Recife, por R$ 150 milhões. No entanto, foi justamente na capital federal que teve alguns planos frustrados. Em 2013, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a comprar — com restrições — parte do Grupo Santa pela corporação.

Com a aquisição, a rede controlaria os hospitais Santa Helena, Prontonorte, Maria Auxiliadora, Renascer e Santa Lúcia. A compra, entretanto, foi condicionada à alienação do Santa Lúcia, ou o grupo teria que abrir mão do Santa Luzia e do Hospital do Coração. Por conta das restrições impostas pelo Cade, a fusão acabou sendo cancelada. No processo, a Rede D’Or manteve apenas o Santa Helena.

Em nota, o Grupo Santa confirmou a transferência do Santa Helena à Rede D’Or, destacando que “segue comprometido com o fornecimento de saúde suplementar de qualidade em Brasília”, informou. A Unimed do Brasil comunicou que a Unimed Brasília Cooperativa de Trabalho Médico foi liquidada extrajudicialmente, conforme decretado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). “Para efeitos administrativos, a ANS nomeia um liquidante extrajudicial que passa a responder legalmente pela operadora.” Interesse estrangeiro

Não são apenas os investidores nacionais que estão de olho em liquidações de unidades de saúde no Brasil. Grupos estrangeiros também estão procurando a Qualicorp — maior administradora de planos de saúde coletivos do país –, segundo anunciou ontem o presidente da empresa, Maurício Ceschin. A expectativa é de que as parcerias possam assegurar o crescimento do número de beneficiários de planos de saúde. O último grande grupo internacional que começou a investir em território brasileiro foi a americana Bain Capital, que comprou a Intermédica em 2014. A Amil foi uma das operadoras vendidas, em 2010, para a UnitedHealth, por quase R$ 10 bilhões.