O governo de São Paulo registrou alta de 110% no número de internações de pacientes com Covid-19 nas últimas quatro semanas. Em 21 de fevereiro, eram 13.665 hospitalizados. Hoje, são 28.638.

Segundo o secretário de estado da Saúde, Jean Gorinchteyn, nesta segunda-feira (22) o estado de São Paulo já tinha 91,2% dos leitos de UTI para Covid-19 ocupados. Só na Grande São Paulo a taxa é similar, de 91,3%. Atualmente, 60 cidades de São Paulo estão com todas as vagas para tratamento intensivo ocupadas.

Diante da crescente ocupação dos leitos de UTI, o governo do estado afirmou que uma das grandes preocupações é a manutenção do fornecimento de oxigênio hospitalar para São Paulo. Na manhã desta segunda, o governador João Doria (PSDB) e sua equipe se reuniram com fabricantes do produto.

Dos quase 29 mil pacientes internados com Covid nas unidades da rede estadual, 12.068 estão em UTIs, segundo o secretário. Com isso, o aumento de demanda por oxigênio cresceu 45% nas últimas quatro semanas no estado.

Patrícia Ellen, secretária de Desenvolvimento, afirmou que as empresas garantiram o fornecimento de oxigênio às unidades hospitalares, mas, como elas estão sobrecarregadas, o estado se mobilizou para identificar e solucionar os gargalos de logística e a distribuição do insumo, acionando inclusive a iniciativa privada.

O vice-governador Rodrigo Garcia anunciou que a Ambev vai construir e operar uma usina de oxigênio na região de Ribeirão Preto (313 km de SP), com capacidade de produção de 120 cilindros por dia. A usina deve ficar pronta em dez dias.

Uma força-tarefa também foi montada para garantir a distribuição de oxigênio em cilindros. A Copagaz, segundo Garcia, vai utilizar sua frota para auxiliar na entrega do insumo às unidades de saúde, principalmente nas cidades que não possuem grandes tanques para armazenamento.

A demanda de cilindros com oxigênio tem aumentado de maneira expressiva principalmente em UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), formando um dos principais gargalos para o fornecimento do insumo, exigindo mais recipientes distribuídos por mais pontos de entrega.

No caso dos pacientes infectados pelo coronavírus internados em UPAs, cada um necessita de ao menos três cilindros, segundo Wilson Mello, presidente da Investe SP. Um recipiente fica conectado ao paciente, enquanto outro está em trânsito e o outro está sendo carregado em uma usina.

Na tentativa de desfazer esse gargalo, o governo pede às empresas que doem ou emprestem seus cilindros. Segundo Mello, que tem feito a captação junto à iniciativa privada, mesmo os recipientes de uso industrial serão aceitos, já que podem ser esterelizados e adapatados para a utilização em hospitais.

Já para tentar otimizar a distribuição de oxigênio, a pedido dos fabricantes, o estado também vai concentrar os pacientes mais graves —que demandam maior quantidade do insumo— em unidades hospitalares com maior capacidade de armazenamento.

Dessa forma, a partir desta terça-feira (23), o Hospital Geral Vila Penteado, na zona norte da capital paulista, passará a atender exclusivamente pacientes com Covid-19. A unidade destinará 55 leitos de UTI e 141 de enfermaria.

O pronto-socorro do hospital atenderá de forma referenciada e receberá somente pacientes levados pelo Samu ou Resgate ou que sejam transferidos de outras unidades de saúde. Quem buscar atendimento no local será orientado a procurar unidades da rede de saúde na região.

O único serviço que permanecerá no Vila Penteado será a UTI de queimados, área na qual o hospital é referência, que funcionará em ala separada ao atendimento de Covid.

O estado completa nesta segunda o oitavo dia da fase emergencial do Plano São Paulo, no qual somente serviços emergenciais podem funcionar e o toque de recolher vale das 20h às 5h. A medida mais restrita foi tomada para frear a alta de casos, internações e óbitos de Covid-19 em São Paulo.

No último fim de semana, a taxa de isolamento no estado chegou a 47% no sábado e 51% no domingo, anunciou o governo do estado. O secretário da Saúde chamou atenção para o aumento de um ponto percentual nos dois dias, em relação ao fim de semana anterior.

O diretor do Centro e Contingência do Coronavírus, Paulo Menezes, defendeu que as medidas mais restritivas da fase emergencial já equivalem ao lockdown implantado em outros locais do mundo. Ele ainda disse que outras ações, como barreiras sanitárias nacionais e internacionais, são de responsabilidade do governo federal.

Ele afirmou também que o governo já notou uma pequena queda na velocidade da ocupação dos leitos de UTI no estado nos últimos três dias, mas reforçou que são necessários mais dias para avaliar se essa queda será consistente.

Na última sexta-feira (19), segundo Menezes, o aumento de internações em UTIs foi de 2,9%. No sábado (20), o acréscimo dessas hospitalizações foi de 2,1%. Já no domingo (21), esse índice foi de 0,7%.

Para exemplificar o impacto positivo das restrições, João Gabbardo, diretor-executivo do comitê de controle da pandemia no estado, afirmou que no domingo anterior (14) 356 novos pacientes foram admitidos nas UTIs da rede estadual. Já neste domingo (21), esse número caiu para 87. Ele não relacionou o dado com a disponibilidade de leitos na rede em ambas as datas.

Para evitar que o megaferiado anunciado pelo Prefeito Bruno Covas, entre os dias 26 de março e 4 de abril, estimule um deslocamento de pessoas, Menezes sinalizou que novas restrições devam ser anunciadas nos próximos dias.

Ele afirmou que além do litoral, muitas áreas com represas na Grande São Paulo costumam ser usadas como lazer pela população, inclusive em embarcações —o que poderá ser proibido durante os dias de recesso estendido.