Passado um pouco mais de um ano desde que tudo começou, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) continua a reunir e a analisar informações, constantemente, para que possa identificar padrões, prever possíveis novas ondas e evitar mais impactos no setor de saúde como um todo. No Observatório 2021 e na 6ª Nota Técnica (NT) do Observatório, lançados ontem (26), a entidade apresentou os resultados de seus associados no ano de 2020 e no primeiro trimestre de 2021. Os documentos mostram o modo como a Covid-19 afetou os principais indicadores dos hospitais privados e as dificuldades que os gestores têm enfrentado durante a pandemia. É possível fazer o download gratuito do conteúdo do Observatório 2021 na íntegra pelo link e, da 6ª Nota Técnica do Observatório, pelo link.

Termômetro de desempenho, a taxa de ocupação das instituições associadas à Anahp, que vinha se mantendo acima de 76% nos últimos três anos, sofreu uma queda de 9,37 p.p. em 2020, passando de 76,96% para 67,59%.

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“A queda foi causada, principalmente, pela recomendação de adiamento de procedimentos eletivos nos meses iniciais da pandemia em 2020 e pelo receio da população de sair de casa, até mesmo para dar continuidade aos tratamentos de doenças crônicas e, infelizmente, até para condições agudas de gravidade”, explica Ary Ribeiro, editor do Observatório e da Nota Técnica do Observatório da Anahp e CEO do Sabará Hospital Infantil.

Já no primeiro trimestre deste ano, com o aumento de casos de Covid-19 devido à segunda onda no País, os hospitais privados registraram uma taxa de ocupação maior do que no mesmo período do ano passado (70%), mas ainda inferior a 2018 (75,9%) e 2019 (76,2%).

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O pico de mortalidade de pacientes com Covid-19 nos hospitais associados à Anahp ocorreu em março de 2021, quando chegou a 15,1%, superando a taxa de 14,9% de agosto de 2020, até então o pior mês desde o início da pandemia.

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Devido à dinâmica da Covid-19, a média de permanência geral, que vinha apresentando tendência de queda entre 2017 (4,27) e 2019 (4,04), aumentou 13,61% em 2020, registrando 4,59 dias. Diante desse cenário, o índice de giro, que mede a capacidade mensal de internação em cada leito, diminuiu 19,1%, passando de 5,85 vezes em 2019 para 4,73 vezes em 2020, em média.

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No primeiro trimestre deste ano, o aumento da taxa média de permanência de leitos foi ainda maior (21,95%), na comparação com o mesmo período de 2020, passando de 4,1 para 5 dias. Este último resultado foi impulsionado pelo mês de março, cuja média de permanência foi de 5,3 dias. O índice de giro, por sua vez, foi 13% inferior ao primeiro trimestre de 2021 (4,7 vezes) em comparação ao mesmo período de 2020 (5,4 vezes).

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Analisando os demais indicadores dos associados à Anahp, houve uma redução de 20,09% no número de internações em 2020 em comparação a 2019. Além disso, foi observada uma mudança no mix de pacientes hospitalizados no primeiro trimestre deste ano e do ano passado, com aumento de 7,90 p.p. nas internações relacionadas a doenças infecciosas onde está classificada a Covid 19, e queda de 3,7 p.p. das internações relacionadas às doenças crônicas dos aparelhos digestivo e circulatório, e às doenças do sistema osteomuscular.

Empregabilidade

Na contramão dos indicadores econômicos e sociais do Brasil, que apresentaram queda 7,81 milhões de pessoas ocupadas, o setor de saúde, um dos principais geradores de emprego no País, manteve o ritmo de contratações. No saldo de admissões e desligamentos de empregos formais na saúde, chegou a 111 mil em 2020, sendo 78 mil em atividades hospitalares, os maiores números registrados desde 2012.

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Junto com as novas contratações, cresceu também o absenteísmo. O contágio de profissionais da saúde e o esgotamento (burnout) são fatores que explicam o forte aumento na taxa, que saiu de 2,16% em 2019 para 3,56% em 2020. Já em relação a este ano, o absenteísmo (menor ou igual a 15 dias) também apresentou aumento na comparação com o primeiro trimestre de 2020 (2,4%) e 2021 (3,4%).

Negócios

As novas contratações, somadas a outros aumentos de despesas e à queda da receita dos hospitais privados com a redução da taxa de ocupação, fizeram com que, no acumulado de 2020, a margem EBITDA ficasse em 8,04%. O valor representa uma queda significativa de 4,36 p.p., quando comparado ao mesmo período de 2019, e uma redução ainda maior quando comparado ao resultado de 2018 e 2016. “Quando observamos o desempenho econômico-financeiro dos hospitais da Anahp em 2020, ele é, claramente, o desempenho de uma situação crise. Nós vemos uma redução da receita maior do que uma redução da despesa, o que significa que as instituições perderam mais do que conseguiram ganhar”, explica André Medici, editor e coeditor do Observatório 2021 e da 6ª Nota Técnica do Observatório Anahp.

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Já o primeiro trimestre de 2021 trouxe números melhores, com EBITDA de 13,3% – um crescimento de 4,9 p.p., em comparação ao mesmo período do ano passado (8,4%). “O que temos percebido é que os resultados obtidos acompanham o aumento e a queda da taxa transmissão de Covid-19 no País. O crescimento do EBITDA no primeiro trimestre deste ano pode ser explicado pela retomada de procedimentos eletivos por pacientes que, após um ano postergando cuidados com a saúde, voltaram a procurar atendimento médico, em um momento em que a pandemia estava em um estágio de menor contágio (final de 2020). Porém, com a nova onda que tivemos no início desse ano, a tendência é de forte queda para os próximos meses”, analisa Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp.

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“O Observatório Anahp e a 6ª Nota Técnica do Observatório consolidam os cenários que acompanhamos ao longo do último ano e, a partir dos picos de internação de pacientes Covid, mostram a tendência para 2021. Na análise, podemos concluir que este ano continuará sendo muito desafiador para os sistemas de saúde e os hospitais em geral, com perspectivas de ‘ondas’ de Covid-19, impactando a taxa de ocupação e o perfil epidemiológico e, consequentemente, as despesas e a receita dos hospitais privados. A evolução da pandemia no Brasil em 2021 tem no ritmo da cobertura vacinal a principal variável, que pode impactar na redução do número de casos e de óbitos”, finaliza Ribeiro.