O valor médio de uma internação médico-hospitalar aumentou quase três vezes em oito anos, de R$ 8,0 mil em 2008 para R$ 23,9 mil em 2015. Os números, alarmantes, fazem parte do estudo especial “Análise da utilização e dos gastos com serviços de assistência à saúde segundo o perfil do usuário – Um estudo de caso”, desenvolvido pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) com base nos dados de uma operadora de autogestão entre os anos de 2008 e 2015. No período analisado, o número de beneficiários da operadora analisada passou de 100,7 mil para 75,3 mil, uma redução de 25,2%. Além dos dados de internações, o estudo compreendeu os demais serviços de saúde, como consultas, exames ambulatoriais e outros procedimentos assistenciais.

Para Luiz Augusto Carneiro, superintendente executivo do IESS, o estudo mostra um importante alerta dos setores de saúde em âmbito global. “Mesmo com a queda do total de beneficiários nos últimos anos, as despesas com a assistência não param de subir. Esse crescimento foi puxado principalmente pelo envelhecimento dos beneficiários, o que tem se refletido nos gastos com internação”, aponta. “Apesar de os números não corresponderem à totalidade do mercado, indicam tendências que, se ignoradas, podem comprometer a sustentabilidade do setor”, analisa.

O alerta dado por Carneiro tem motivo. A pesquisa mostra que, em valores reais, as despesas assistenciais médico-hospitalares dessa operadora aumentaram 52,7% no período analisado, de R$ 475,3 milhões em 2008 para R$ 725,6 milhões em 2015. Apenas os gastos com internação cresceram 76,9% no período e chegaram a representar 53,0% do total de gastos assistenciais em 2015. Vale lembrar que estudo recente do IESS mostrou que as operadoras de planos de saúde devem gastar R$ 383,5 bilhões com assistência à saúde de seus beneficiários em 2030. O montante representa um avanço de 157,3% em relação ao registrado em 2017.

Na análise, notou-se que a única faixa etária que apresentou crescimento foi a de idosos (60 anos ou mais), que passou de 26 mil em 2008 para 33 mil em 2015, ou seja, aumento de 27,1%. As demais faixas etárias, de até 18 anos e de 19 anos a 59 anos, apresentaram queda de 52,5% e de 41,3%, respectivamente. Proporcionalmente, os idosos representavam 26% do total de beneficiários em 2008. Número que saltou para 44% em 2015.

“A maior longevidade da população, com certeza, é um fator positivo e uma conquista. No entanto, também tem gerado uma mudança demográfica e aumento dos custos médico-hospitalares em diferentes países. O Brasil está passando exatamente por essa mudança”, comenta Carneiro. Esse processo representa maior prevalência de doenças crônicas (como diabetes e hipertensão arterial) e de comorbidades – existência de duas ou mais doenças em simultâneo na mesma pessoa – que demandam necessidades específicas. Vale lembrar um importante aspecto da Projeção da População divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em agosto desse ano é a constatação de que o bônus demográfico aparentemente chegará ao fim já neste ano – e não em 2023, como foi previsto no estudo anterior, de 2013.

Importante reforçar que o estudo de caso utilizou dados de uma operadora de plano de saúde da modalidade de autogestão. O superintendente executivo do IESS lembra que apesar do universo estudado não representar a totalidade do mercado de saúde suplementar no País, é um esforço para se pensar as especificidades das populações, suas características epidemiológicas e necessidades. “Acreditamos que este estudo pode ser um valioso instrumento para a melhoria da qualidade assistencial ofertada a todos os beneficiários, principalmente na busca de melhores formas de atender a população, aperfeiçoar a utilização dos recursos e garantir a sustentabilidade econômico-financeira do setor”, finaliza.

Evolução das despesas assistenciais

Apesar da redução de 25,2% no número de beneficiários no período analisado, entre 2008 e 2015, houve aumento no número médio de consultas ambulatoriais, consultas em pronto-socorro e exames ambulatoriais. A análise mostrou que entre 2008 e 2015, as despesas assistenciais dessa operadora passaram de R$ 475,3 milhões para R$ 725,6 milhões, um crescimento de 52,7%. A maior variação no período analisado foi com internações, com 76,9%, seguido de consultas em pronto-socorro, com 46,7%, de consultas ambulatoriais, representando 26,0% e de exames ambulatoriais, com 22,4%.

As consultas ambulatoriais por beneficiário aumentaram de 5,2 em 2008 para 5,8 em 2015, com dois picos na média de consultas: no primeiro ano de vida, com média de 7,8 para as meninas e 8,1 para os meninos e outra na faixa etária dos 70 a 80 anos – média de 7,3 para as mulheres e 6,6 para os homens. O valor médio de uma consulta ambulatorial foi de R$ 60,24 em 2008 para R$ 90,36 em 2015, aumento de 50%. Já o número total de exames ambulatoriais saltou de 2,1 milhão em 2008 para 2,5 milhões em 2015, representando um aumento de 21,3%.

A pesquisa também mostra que o valor médio de uma internação passou de R$ 8 mil em 2008 para R$ 23,9 mil em 2015, um aumento de 197,6%, ou quase 3 vezes mais. Em 2015, o custo médio de uma internação com idoso era quase duas vezes maior do que a das faixas etárias até 18 anos e 19 anos a 59 anos – R$ 28,5 mil contra R$ 15,4 mil.