A pandemia não trouxe apenas um movimento de aceleração das mudanças no setor de saúde, mas uma reflexão importante sobre como diversificar os serviços para atender a todos os perfis de consumo. Afinal, de acordo com a Pesquisa Anab (Associação Nacional das Administradoras de Benefícios) sobre planos de saúde, mais de 80% dos brasileiros estão mais preocupados com o acesso a tratamentos. E essa atividade é relevante para o país de diferentes formas. Precisa ser analisada com mais atenção e não apenas como despesa. O estudo global O Futuro da Saúde – 2021, organizado pela PwC, entrevistou mais de 150 executivos do setor, e confirma que a corrida por soluções inovadoras está apenas começando.

O resultado da Conta-Satélite de Saúde, trabalho desenvolvido por técnicos de órgãos do governo e pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sobre o ano de 2019, ratifica a tendência. O setor é gerador de empregos, renda e responsável pelo maior crescimento em número de ocupações entre 2010 e 2019: 62,9%. Para o período 2011-2019 da mesma pesquisa, foi possível observar que, mesmo em anos de crise econômica, o consumo final de bens e serviços de saúde cresceu mais ou caiu menos do que o de outros setores de bens e serviços da economia. Isso reforça a ideia de que o plano de saúde é um bem desejado e uma conquista valorizada.

Os serviços de saúde privados estão entre as principais despesas de saúde dos consumidores brasileiros e respondem por 67,5% do total das despesas de consumo final no segmento. A saúde ganhou importância e o usuário busca alternativas para manter o serviço. Entre 2019 e 2021, a maior busca pela portabilidade de carência aconteceu entre os meses de janeiro e março de 2021 e a busca por um plano mais barato (46%) liderou as motivações.

A preocupação do brasileiro com a saúde – principalmente no auge da pandemia – se reflete no movimento de evolução de beneficiários. O número de usuários de planos de saúde no país passou dos 49 milhões em março, o maior desde janeiro de 2016, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar. O setor tem registrado aumentos consecutivos de beneficiários desde julho de 2020. Em um ano, houve um crescimento de 1,27 milhão de clientes nos planos médico-hospitalares.

O país tem cerca de 700 operadoras ativas e cada uma delas oferece uma carteira de serviços diferenciada. O consumidor tem liberdade para escolher o serviço, mas é preciso identificar um produto que cabe no orçamento, principalmente neste período em que o poder de compra dos brasileiros diminuiu 21%. O beneficiário deve considerar, no momento da contratação, que pagar menos não classifica o serviço, mas é preciso buscar um produto visando a prevenção à saúde, não apenas rede hospitalar.

Em 2021, a Intermédica, com 4,3 milhões de beneficiários, e a Hapvida, com 4,2 milhões, lideravam o ranking das operadoras. Com a fusão, que ocorreu em fevereiro deste ano, as duas juntas agregam 8,5 milhões de vidas.

Em busca da eficiência, o setor de saúde vem ganhando destaque no mercado de fusões e aquisições. A transformação é uma tendência habitual de variados setores. Agora, o movimento atinge o setor de saúde. Desde o início de 2021 até o primeiro trimestre deste ano, a indústria realizou cerca de 150 transações, que alcançaram o patamar de R$ 20 bilhões, de acordo com a PwC.

O dinamismo do setor favorece cada vez mais o consumidor, com portfólios mais abrangentes e uma novidade, o sistema LIFECare, que deverá fazer a diferença no futuro. Ampliando o olhar da saúde para o longo prazo, o bem-estar e a longevidade dos beneficiários. A participação dos reguladores, nos últimos dois anos, tornou o serviço mais completo e rápido com a inclusão das novas tecnologias e soluções de saúde digital. A crise sanitária transformou várias atividades e o setor de saúde também precisou se reinventar. Aproveitando oportunidades que pudessem facilitar as interações, como o teleatendimento em saúde.

A Câmara dos Deputados, em abril de 2022, atendendo aos avanços da tecnologia, aprovou a modalidade de prestação de serviços de saúde e estendeu o atendimento remoto a todos os profissionais de saúde. A única exigência é a obrigatoriedade do registro, nos conselhos regionais de medicina, das empresas intermediadoras de serviços médicos. A fiscalização ética do exercício profissional da telessaúde, para as atividades de saúde regulamentadas, será de competência dos conselhos federais. O projeto de lei segue agora para o Senado.

As mudanças no mercado não param, principalmente porque o setor compreende cada dia mais que o cliente é o ponto central neste tipo de negócio. As exigências dos beneficiários, em busca de melhor atendimento, promovem mudanças simples, mas que podem fazer a diferença, como a criação do serviço de concierge para atenção à saúde mais humanizada. O Qualiclass chega como novidade, com o objetivo de oferecer um acolhimento focado na saúde integral.

A transformação digital na saúde chegou para atender as necessidades dos agentes envolvidos no serviço: pacientes, profissionais de saúde, administrativos, executivos, etc. A evolução ainda está caminhando. Os resultados da pesquisa TIC Saúde 2021 – dados coletados entre janeiro e agosto de 2021 – organizado pelo Comitê Gestor da Internet (CGI.br), mostram que o setor ainda tem desafios. Apenas 29% dos estabelecimentos possuíam uma área ou departamento de TI. Nos serviços privados, a presença é de 40% e, entre os públicos, 17%. Neste cenário, 20% dos estabelecimentos de saúde possuíam profissionais de saúde na área de TI.

Ao olhar o futuro do sistema de tratamento de saúde, identifico a necessidade de oferecer um serviço cada vez mais personalizado, olhando o indivíduo de forma diferenciada. Um serviço mais integrado, onde o estilo de vida do beneficiário seja considerado para definir o tipo de assistência e que o papel do paciente no tratamento integre a participação ativa do beneficiário e mais autonomia.