As organizações devem cuidar de seus funcionários antes que adoeçam. Foi com essa frase simples, mas carregada de significado, que a Diretora de Normas e Habilitação de Produtos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Karla Coelho, enfatizou o caráter emergencial de um novo modelo de saúde baseado em evidências, com o qual empresas e operadoras de planos assistenciais estejam envolvidas.

Convidada da ASAP como palestrante do evento “O papel dos contratantes na gestão da saúde de seus funcionários e no aprimoramento do setor de saúde suplementar”, que aconteceu no dia 12 de julho, em São Paulo, Karla afirmou que é preciso pensar na qualidade da atenção que está sendo prestada e na sustentabilidade do setor de saúde a partir de dados e transparência, estes, elementos essenciais para a construção de um novo modelo assistencial. E esse novo modelo assistencial, explicou a diretora da ANS, precisa garantir o envelhecimento populacional de qualidade e diminuir o índice de doenças crônicas.

“O sistema de saúde pode cuidar desses problemas com programas de promoção e prevenção, principalmente os planos coletivos empresariais, que têm um enorme potencial para criar sinergias entre a saúde ocupacional com a assistencial”. O CDC Workshite Health ScoreCard – questionário que avaliará a abrangência das intervenções de programas de promoção da saúde nas organizações e que está disponível no site da ASAP para cadastro e preenchimento – se apresenta como uma ferramenta para manter o funcionário saudável, de modo que evite o desperdício dos recursos de saúde e aumento de custos. “O questionário permitirá avaliar se os investimentos em programas de promoção e prevenção trazem resultados baseados em evidências”, explicou Karla. O Brasil tem 1.320 operadoras, das quais 347 cadastraram programas na ANS. São ao todo 1.346 programas de promoção e prevenção já existentes na agência reguladora e que atendem cerca de 1,5 milhão de beneficiários. Do total de programas registrados, 75% têm menos de 400 participantes e apenas 5% contam com mais de três mil beneficiários. Mais de 70% dos programas atendem a área de atenção à saúde do adulto e idoso. “As operadoras e as empresas não podem pensar em saúde apenas quando o funcionário adoece”. Disse Karla: “As empresas devem estimular as operadoras a promoverem ações dentro do produto assistência que já existe e está registrado na ANS”.

 

1

 

Segundo Karla, o CDC, uma ferramenta disponibilizada pela ASAP, através do termo de cooperação com a ANS, propõe sensibilizar as empresas contratantes para a importância de desenvolver programas de promoção e prevenção junto de suas operadoras de planos assistenciais, com a integração da saúde ocupacional e assistencial, em direção a um posicionamento proativo.

No evento o qual participou, ao chamar a atenção dos ouvintes a respeito dos números da saúde suplementar – são 48,8 milhões de beneficiários de planos privados assistenciais, destes, 66% estão cobertos por planos coletivos empresariais, 13,44% são coletivos por adesão e o plano individual familiar atende cerca de 20% – a diretora da ANS realçou a relevância dos dados para a elaboração de estratégias em programas de saúde. “Sem informações não podemos pensar em estratégias, em políticas e em ações cotidianas na nossa empresa”. É importante conhecer quem são os funcionários, quantos são e por que adoecem. Em 2015, as receitas do setor da saúde suplementar ficaram em torno de R$ 142 bilhões, enquanto que as despesas alcançaram R$ 119 bilhões. “Esses números são suficientes para aquecer a nossa discussão sobre os desafios da saúde suplementar”, afirmou.

Desafios da Saúde Suplementar

E quais são os desafios da saúde suplementar? Conter o aumento de gastos, muitas vezes desnecessários e acompanhar o envelhecimento populacional com redução de doenças crônicas não transmissíveis, para manutenção de um sistema de saúde sustentável.

As doenças cardiovasculares, câncer, doença respiratória e diabetes responderam por 63% do total de óbitos do mundo no ano de 2008. No Brasil, a hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer estão relacionados aos 72,4% do total de mortes em 2009. As quatro doenças geram impactos econômicos, além dos custos diretos e indiretos com gastos no sistema de saúde e apontam para um número elevado de absenteísmo, tendo como consequência, a baixa produtividade nas empresas, disse Karla. Dados do Center for Disease Control (CDC) revelam que o custo total relacionado à doença cardíaca e AVC em 2010 foi estimado em US$ 315.4 bilhões. O câncer teve custo de tratamento estimado em US$ 157 bilhões no mesmo ano. Os custos médicos com a obesidade estão na casa dos US$ 147 bilhões em 2008, enquanto que para o período de 2009 a 2012, o custo econômico estimado do tabagismo foi de US$ 289 bilhões por ano e do alcoolismo em 2006 foi de US$ 223.5 bilhões. “A informação é fundamental para pensarmos estratégias no sentido de oferecer à população uma vida melhor, com menores custos”. Dados do Ministério da Saúde do ano de 2015 revelaram que 52,5% dos brasileiros estão acima do peso e 17,9% da população está obesa.

As doenças crônicas não transmissíveis, afirmou Karla, estão relacionadas ao estilo de vida, que pode ser modificado, a depender dos fatores genéticos. “Metade da população morre por doenças crônicas não transmissíveis no auge de sua vida produtiva, não vive o envelhecimento e nem a aposentadoria. As doenças crônicas não transmissíveis não são apenas uma ameaça à saúde humana, mas também ao desenvolvimento econômico”.

Após apresentar vários dados, a diretora da ANS ressaltou que a sustentabilidade da saúde dentro das empresas dependeria da forma como essas informações seriam utilizadas, no sentido de provocar mudanças a partir da responsabilidade social, ambiental e econômica, uma vez que os recursos destinados para o investimento em saúde são limitados.

O papel dos contratantes

O ambiente, afirmou Karla, é um braço estratégico das políticas de promoção de saúde e prevenção de doenças, uma vez que 66% dos beneficiários da saúde suplementar possuem planos coletivos empresariais. Além desse percentual ser alto, o ambiente de trabalho pode ser um instrumento para criação de uma cultura de saúde, como o estilo de vida saudável, sendo possível também descobrir as causas de adoecimento de determinada população.

“O papel do contratante é manter o foco nos resultados em saúde, nos impactos e nos custos diretos e indiretos”, disse a diretora da ANS ao citar a produtividade, a falta ao trabalho e o absenteísmo como os impactos que poderão ser acompanhados pelas organizações com a cooperação dos planos de saúde. “Os programas de promoção à saúde são estimuladores da integração das ações de saúde ocupacional e assistencial, e essa integração em saúde orientada para os trabalhadores geram melhores resultados”. Ainda segundo Karla, intervenções utilizando um modelo abrangente, que aborde tanto as ações de saúde ocupacional, como a assistência e promoção de saúde e prevenção de riscos e doenças podem melhorar de maneira mais efetiva a saúde dos trabalhadores.

Perfil das empresas contratantes de planos coletivos empresariais

 

2

 

3

 

Integração Assistencial com a Saúde Ocupacional

Pesquisa realizada pela ANS identificou evidências de boas práticas na integração assistencial e ocupacional. “Na Agência perguntávamos se as empresas entendiam a integração como um elemento fundamental para a elaboração de programas de promoção e prevenção e 66% das entrevistadas disseram que sim”.

 

4

 

5

 

6

 

7

 

CDC Worksite Health Scorecard

Ferramenta desenvolvida pelo Center for Diseade Control (CDC), dos Estados Unidos, em 2008 – o CDC Worksite Health Scorecard – foi apresentado no evento da ASAP. A finalidade dessa ferramenta é auxiliar empregadores a avaliarem a situação em seus locais de trabalho quanto a adoção de ações e estratégias de promoção em saúde e prevenção de doenças. O CDC ScoreCard foi elaborado como uma estratégia para o enfrentamento de problemas relacionados a epidemia de doenças crônicas, da redução da competitividade, perda de produtividade e os altos custos em saúde. A ANS, explicou Karla, em termo de cooperação com a ASAP, apoiará a execução e a validação do questionário no Brasil e conta com a participação voluntária das empresas.

A SAÚDE NAS EMPRESAS: INVESTIGAÇÃO EXPLORATÓRIA COM O USO DO QUESTIONÁRIO CDC – Worksite Health Score Card (HSC)

Ao iniciar sua apresentação, Kylza Estrella, do Comitê Técnico da ASAP, demonstrou números que impactam nos custos do setor corporativo e, em seguida, explicou como responder ao questionário Health ScoreCard. Há aumento de custos com saúde nas empresas, aponta pesquisa da Linnam, de 2008: 47% das companhias avaliadas reportam aumento de 10% com saúde e 18,7% das empresas reportam aumento maior do que 20%. “A pergunta não é se há aumento de custo com saúde, mas como e o que fazer para reduzir a escalada do aumento”, disse Kylza. Em 2015, o Brasil ocupou a 4ª maior inflação médica do mundo e o custo médio dos planos de saúde em relação à folha de pagamentos foi de 11%. Para conter essas despesas, segundo a pesquisa da Marsh realizada neste ano, com 513 empresas que mantém dois milhões de assegurados, as ações para 40% delas seria trocar o fornecedor em busca de um plano de saúde mais barato, 37% pretendiam redesenhar o plano para incluir ou aumentar a coparticipação dos funcionários e 40% adotariam programas de promoção em saúde para reduzir os gastos. Na avaliação de Kylza, as duas primeiras medidas não trazem mudanças, ao contrário, geram desgastes e insatisfação dos empregados. “Os números mostram que precisamos abraçar a causa da mudança, mas de que maneira?”, indagou Kylza. Ela demonstrou aos participantes do evento o questionário HSC: “Esse questionário aponta para um modelo de intervenção, é didático e ajuda na construção do programa, aponta rumos de mudança. Quando eu estabeleço uma linha de cuidados, quando eu faço intervenções consistentes e pertinentes àquela população eu crio redução de custo”. Explicou ela: “Na construção de programas de prevenção não é qualquer coisa que funciona, não adianta apenas ter boa intenção, tem de seguir uma metodologia, caso contrário, o resultado em saúde será cobrado, mas não haverá resultado”.

Kylza ressaltou que o questionário está baseado em evidências científicas:

8

 

Os artigos científicos apresentados comprovam, segundo Kylza, que há evidências de que os programas de promoção e prevenção funcionam e trazem o esperado resultado em saúde e o esperado retorno do investimento. “O ambiente de trabalho é propício para disseminação de informações em saúde que ajudam na construção de outros hábitos de vida, o olhar de cuidado para doenças crônicas é essencial e existe uma metodologia para implementação de programas. É para isso que o CDC chamará a atenção”, explicou a membro do Comitê Técnico da ASAP.
O questionário – que tem 100 perguntas e 12 dimensões que precisam ser avaliadas – é um instrumento de planejamento, disse Kylza, “e ninguém deve ficar preocupado quando começar a preencher e perceber que não fez várias ações. A proposta é que a empresa passe a fazê-las”. “O questionário é um instrumento de pesquisa, para respondê-lo será preciso um momento na sua empresa em que se forme um grupo de pessoas que conheça o programa, que conheça os históricos das ações e o perfil de saúde da empresa”.

 

9

 

O questionário foi trazido para o Brasil pela ANS em cooperação com a Organização Panamericana de Saúde. A ASAP propõe, dentro do termo de cooperação ASAP – ANS que as empresas acessem o site da ASAP (http://www.asapsaude.org.br/) e se inscrevam. O critério para participar, explicou Kylza, é de doze meses de implementação do programa, pois é preciso tempo para tê-lo desenvolvido em sua extensão. As questões devem ser respondidas por gestores do programa e as unidades da empresa devem responder individualmente. “É importante que haja sensibilização para responder ao questionário e para entender a ferramenta, que é extensa, levará entre 30 a 40 minutos para responder e o benefício da pontuação só será alcançado se todo o processo for atendido. Ao final do questionário será produzido um relatório de pontuação”.

Entre os benefícios às empresas que responderem ao relatório, explicou Kylza, estão a ferramenta para planejamento que identificará os hiatos do programa e definirá quais estratégias e prioridades para implementação. “Se sua empresa só trabalha com atividade física, sedentarismo e nutrição, então trabalhe dentro da implementação de um processo o melhor possível de acordo com o que tem evidência, de modo a garantir resultados. É importante educar os colaboradores e administradores sobre a evolução do programa”.