Depois de um 2019 recorde em fusões e aquisições, o mercado de saúde se prepara para renovar essa marca e para um 2021 também aquecido. Segundo dados da consultoria PwC, o segmento teve neste ano, até outubro, 50 operações, já próximo às 57 de 2019. Só nas últimas semanas, em cerca de 20 dias, já foram anunciadas mais seis. E a abertura de capital da Rede D’Or – que, na semana passada, colocou no caixa R$ 8 bilhões, com boa parte dos recursos previstos para novas compras – promete reforçar a consolidação entre hospitais, clínicas e laboratórios.
No País, afirmam os especialistas, ainda há muitas empresas familiares no setor de saúde, que devem ser alvo de empresas maiores em busca de escala. Neste mês, a Notredame Intermédica, que já vem de uma onda de aquisições, comprou o hospital Lifecenter, em Belo Horizonte (MG), por R$ 240 milhões. O Grupo Dasa, dono de laboratórios como o Delboni Auriemo, adquiriu a rede de hospitais Leforte, em São Paulo, em uma operação de R$ 1,77 bilhão. Em planos de Saúde, a Qualicorp ficou com a carteira da Muito Mais Saúde e concluiu a aquisição da Plural e da Oxcorp. Já o laboratório Fleury, por fim, comprou o Centro de Infusões Pacaembu e Clínica de Olhos Moacir Cunha.
O sócio da butique de investimentos JK Capital, Saulo Sturaro, acredita que esse movimento de consolidação vai continuar forte ao menos por um período de dois a três anos, puxado principalmente pelas empresas verticalizadas – que possuem de laboratórios a hospitais, por exemplo.
Neste ano, a JK trabalhou na assessoria de três transações: a compra do Hospital do Coração de Londrina pela Notredame Intermédica, a aquisição do Grupo São José pela Hapvida e, por fim, o Grupo Austa que foi comprado pelo Hospital Care. Outras nove operações já estão no forno, de acordo com o executivo.
Competição
Sturaro afirma que, com esse mercado bastante aquecido e muitos players atentos ao setor, algumas operações começaram a ficar bastante competitivas. “A procura por esses ativos está muito grande e o pessoal está com pressa”, diz. O movimento de consolidação do setor teve partida em 2015, quando a legislação brasileira liberou investimentos estrangeiro no setor no País, o que injetou mais capital nas empresas, que saíram às compras.
O presidente da consultoria Mitfokus Soluções Financeiras, Tiago Lázaro, comenta que o setor da saúde está em plena expansão e terá uma participação cada vez maior no Produto Interno Bruto (PIB) do País. Segundo ele, uma das razões é a boa geração de caixa dessas empresas. “Uma clínica geralmente é gerida por empresas familiares informais. E, quando um fundo de investimentos adquire esta empresa, ele entra com procedimentos corretos em ampla escala e essas margens ficam ainda melhores. Por isso esta grande procura”, comenta.
O sócio líder de fusões e aquisições com foco em Health da EY Brasil, Rodrigo Maluf, aponta que essa consolidação já está em estágio avançado em grandes cidades, mas ainda com espaço no interior e cidades menores, já que nesses locais a presença de players regionais ainda é relevante.
Desempenho na pandemia. Mesmo com a euforia nas fusões e aquisições, o setor de saúde, que está no epicentro da pandemia, teve também o negócio afetado com a crise, com o represamento dos procedimentos eletivos por causa da covid.