Após um reajuste médio de 5,5% nos planos de saúde empresariais em 2021, as operadoras estão pedindo aumentos de até 30%, ou seja, três vezes acima do IPCA – o que tem levado a negociações acirradas com as companhias que oferecem o benefício aos seus funcionários. Nos contratos com vencimento em fevereiro, o reajuste médio aplicado ficou em 17,72%, segundo levantamento da consultoria Arquitetos da Saúde com base em dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

A correção de preço dos convênios médicos é calculada com base em dois indicadores: inflação médica, que foi recorde e ficou na casa dos 21% no ano passado, e a frequência de uso do plano de saúde. Em 2021, houve um acúmulo de atendimentos devido à segunda onda da covid e dos procedimentos médicos não realizados durante o primeiro ano da pandemia.

“A taxa de sinistralidade está em 86%, sendo que a média histórica é 84%. Então, dois pontos percentuais acima não é muito mais catastrófico do que era antes da pandemia. Há margem de negociação em muitos casos”, disse Luiz Feitoza, sócio da Arquitetos da Saúde.

Dos 49 milhões de usuários com o benefício, 69% são da modalidade empresarial. Nesse grupo, também estão os contratos de menor porte com até 29 vidas, que têm mais dificuldades de negociação. Esse grupo é formado por cerca de 3,6 milhões de pessoas.

“O alto reajuste de preços deste ano, acima da inflação (entre 10,4 e 19,4 pontos percentuais), indica pressões de custos [para PME]. Acreditamos que as pressões também podem se traduzir em grandes contratos corporativos. Os reajustes do tíquete não necessariamente levam ao aumento correspondente nas receitas, pois os beneficiários podem ser perdidos ou negociados”, destaca relatório do Credit Suisse, assinado por Maurício Cepeda e Pedro Caravina.

O percentual de negociação varia muito conforme o tamanho da empresa contratante e o trabalho de gestão de saúde realizado com os funcionários. “As operadoras estão pedindo entre 20% e 25% de reajuste. Esse é o percentual de partida, ainda há muita negociação. Mas é um ano difícil, com sinistralidade alta”, disse Leonardo Coelho, responsável pela área de benefício da Aon, consultoria que administra uma carteira com cerca de 2 milhões de usuários de convênio médico, entre funcionários e dependentes das companhias.

Ainda segundo dados da Aon, o volume de internações, que representam cerca de 52% do custo total do plano de saúde, ficou no mesmo patamar entre 2019 e 2021, mas o custo subiu quase 18% para R$ 18,1 mil. Os exames, cuja representatividade é de 16,44% do sinistro geral, tiveram alta de quase 9% tanto em volume como em custos. Já o volume de consultas médicas eletivas e em pronto socorro ainda está num patamar um pouco inferior ao de 2019, mas o custo variou entre 10% e 11%.

Esse desempenho também foi percebido entre as 56 operadoras de autogestão associadas à Unidas, entidade do setor que representa as operadoras administradas pelas próprias empresas contratantes. O custo por internação saiu de R$ 18,4 mil em 2020 para R$ 20,5 mil em 2021 devido aos casos de covid. Até então, a máxima histórica havia sido de R$ 17 mil em 2017.

O executivo da Aon pondera que essa alta nas mensalidades dos planos de saúde não é só culpa da inflação médica e da frequência de uso. Após um 2020, com queda recorde na sinistralidade, muitas operadoras adotaram estratégias comerciais agressivas, ofertando produtos com preço baixo para ganhar participação de mercado. Porém, o cenário de 2021 foi totalmente diferente e trouxe surpresas com a segunda onda da pandemia, casos de sequelas da covid, tratamentos graves de doenças não tratadas e retomada de procedimentos médicos não realizados durante o isolamento. “Agora, estão tentando precificar tudo isso, mas é complicado”, disse Coelho. Durante o ano passado, houve um incremento de cerca de 1,5 milhão de usuários de planos de saúde.

Segundo Mariana Dias Lucon, diretora da Mercer Marsh, consultoria que também administra uma carteira com cerca de 2 milhões de usuários de planos empresariais, há uma dificuldade de troca de operadoras porque não há mais aquele cenário anterior de busca de participação de mercado, com ofertas comerciais agressivas. “Estamos vendo mudanças de categoria de planos no segmento básico, com operadoras ofertando produtos regionais, rede mais restrita”, disse Mariana.

A Fenasaúde, entidade que representa as operadoras e seguradoras de saúde, destaca que a sinistralidade registrada no ano passado é a maior de toda a série histórica iniciada em 2001. “Também vale destacar que o país enfrenta a maior inflação dos últimos 19 anos. Isso afeta diversos setores de atividade econômica, incluindo o mercado de planos de saúde.”