Desde o início do ano, o mundo vem enfrentando uma batalha contra a disseminação do novo coronavírus. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 31 de maio, o Brasil ultrapassou os 500 mil casos confirmados de Covid-19 . Essa pandemia, além de impor desafios à saúde pública, tem provocado preocupação nos pacientes diagnosticados com doenças crônicas, como asma e doenças cardiovasculares. Com a Covid-19, ir a um hospital, seja para um atendimento de emergência, seja para uma consulta de rotina, tem gerado um dilema na vida dessas pessoas, que, muitas vezes, preferem ficar em casa, ao invés de buscar ajuda médica.

Uma pesquisa da Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas (ABRAF), realizada online em abril deste ano, revelou que 55% dos pacientes com insuficiência cardíaca (IC), doença que ocorre quando o coração não se contrai com força suficiente para bombear a quantidade necessária de sangue para o corpo, afirmaram que só irão ao pronto-socorro neste período de pandemia se perceberem que a situação é muito grave, por medo de contágio pelo novo coronavírus. A pesquisa mostra ainda que 26% dos entrevistados tiveram um mal-estar nas últimas semanas, mas optaram por ficar em casa. Além disso, 53% dos pacientes com IC que participaram desse levantamento, disseram que têm medo de morrer em decorrência da Covid-19.

Paula Menezes, advogada e presidente da ABRAF, explica que desde o início da pandemia tem recebido diversas mensagens de pacientes com IC perguntando: “vou ter que buscar o remédio todo mês? Eu não posso buscar para três ou seis meses direto?”. Paula diz ainda que, além de entrarem em contato diretamente, muitos pacientes expressam suas preocupações nas redes sociais. “A gente vê os comentários nas postagens, ou então, eles enviam mensagens diretamente a nós sobre o medo de sair, a falta de informação, muitos pacientes não têm o contato direto do médico”, diz a presidente da ABRAF.

Após perceber uma constante preocupação das pessoas que procuram a entidade, surgiu a necessidade de entender melhor os desafios e ansiedades que elas estão vivendo. “Resolvemos mensurar isso e ver em números qual é a sensação do paciente, o que que ele espera, qual expectativa dele, qual o medo que ele tem e como está a relação dele com a doença e com a pandemia”, explica Paula sobre a pesquisa realizada pela entidade.

Dr. Felix Ramires, cardiologista e médico da Unidade Clínica de Miocardiopatias do InCor-HCFMUSP e Coordenador do Programa de IC do HCor, diz que é possível notar uma queda nos atendimentos a pacientes com doenças cardiovasculares em ambulatórios e hospitais, e uma explicação é o medo que esses pacientes têm do contágio pela Covid-19. “Nas últimas semanas, foi possível perceber uma diminuição de até 50% no atendimento de eventos cardíacos em alguns hospitais”, afirma o cardiologista. “O problema é que esse receio, muitas vezes, pode levar o paciente a uma internação de emergência, ou até mesmo a óbito, por não ter procurado ajuda médica no momento certo, assim que percebeu algum sintoma cardiovascular”, alerta Ramires.

O cardiologista esclarece ainda que o atendimento a pacientes cardiopatas sofreu adaptações, mas não foi interrompido. “É importante que todos saibam que muitos hospitais estabeleceram procedimentos para separar os pacientes que chegam com sintomas respiratórios de outros pacientes, como os que precisam de atenção devido a um evento cardiovascular”, informa o médico. “A insuficiência cardíaca, por exemplo, é uma condição extremamente séria e precisa um acompanhamento regular, ela chega a ser mais grave que muitos tipos de cânceres como o de intestino e o de mama, por isso, não podemos paralisar o atendimento a esses pacientes”, diz.

Doenças cardiovasculares e Covid-19

As doenças cardiovasculares, principal causa de morte no mundo, estão no grupo de risco para a Covid-19. Pacientes com infarto, AVC, insuficiência cardíaca e hipertensão arterial, por exemplo, são orientados a redobrar os cuidados recomendados por órgãos de saúde, como a Organização Mundial de Saúde (OMS).

O Dr. Felix Ramires explica que “até o momento, foi observado que pacientes com doenças cardiovasculares que foram infectados pelo novo coronavírus apresentam um maior risco de complicações pela Covid-19, pois o vírus pode agravar a doença de base ou afetar diretamente o coração”.

Segundo os boletins epidemiológicos divulgados semanalmente pelo Ministério da Saúde, a cardiopatia tem sido a principal comorbidade associada nas mortes causadas pelo novo coronavírus. Na semana de 17 a 23 de maio, por exemplo, cerca de 30% de óbitos causados pela Covid-19 foram de pacientes que apresentavam alguma doença cardíaca.

Com isso, Ramires reitera a importância de consultar um especialista durante a pandemia. “É fundamental que, além de seguir as recomendações de higienização e isolamento, os pacientes não interrompam os tratamentos sem indicação médica, e que busquem ajuda, assim que perceberem algum sintoma, seja esse de Covid-19, seja da de alguma doença do coração “, finaliza o especialista.