A pandemia causada pelo novo coronavírus está ajudando a acelerar mudanças que há muito tempo vinham sendo ensaiadas na saúde e que agora se mostram ainda mais necessárias. É o caso da maior interação entre os sistemas público e privado, da necessidade de atualização das regras que regem a saúde suplementar e da transição para modelos baseados na geração de valor para os pacientes, com maior foco em prevenção e atenção primária.

Estas foram algumas das conclusões do webinar “Covid-19: Os desafios da saúde em tempos de pandemia”, promovido nesta quarta-feira (8/7) pelo Real Hospital Português, de Recife.

“Chegamos à conclusão de que temos muito a ganhar agindo juntos e não separados. Precisamos estar unidos na luta por mudanças e avanços. Isso vai ser benéfico para a sociedade como um todo: usuários, prestadores e SUS. Com a pandemia, saúde pública e suplementar estão cada vez mais conectadas”, disse Vera Valente, diretora executiva da FenaSaúde, durante o webinar.

Ela ressaltou que a pandemia reforça a importância da complementaridade entre os sistemas público e privado de saúde, assim como da união dos agentes do setor em busca de soluções e respostas à nova realidade. Isso se mostra ainda mais premente diante das dificuldades econômicas que advirão das restrições causadas pela covid-19.

Neste sentido, um dos maiores desafios para a sociedade como um todo será encarar um contexto econômico completamente diferente nos próximos meses e anos, com queda da atividade e alta do desemprego, e os efeitos disso sobre a assistência à saúde. Entre as respostas, estão mudanças regulatórias que facilitem e ampliem o acesso de mais pessoas a planos e seguros de saúde privados.

“Está cada vez mais claro que um dos nossos desafios é desenvolver modelos que nos permitam ampliar acesso e trazer mais pessoas para a saúde suplementar, o que é bom para os usuários, bom para os prestadores e bom também para o SUS. Cada vez mais, temos que buscar alternativas que dependam menos do emprego formal”.

Os debatedores do webinar ressaltaram a importância das operadoras de planos e seguros privados como setor que irriga toda a cadeia de saúde, garantindo o bom funcionamento da assistência e a remuneração dos prestadores.

“Manter esta rede saudável e funcionando bem é bom para todos: beneficiários, SUS e prestadores. As operadoras têm reiterado seu empenho para que esta cadeia mantenha-se forte e atuante”, destacou Vera.

Um dos riscos para a continuidade dos atendimentos está na “pandemia de projetos de lei e decisões judiciais” que ameaça interferir no funcionamento do setor – em muitos casos, em função da falta de entendimento mais claro sobre como funciona o sistema. “Muitas destas propostas versam sobre inadimplência, anistiando o não pagamento. A questão é: como pagar a rede de prestadores numa situação assim?”

Além de Vera Valente, participaram do webinar o diretor médico do Real Hospital Português, Cristiano Hecksher; o CEO do Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini; o juiz Luiz Mario Moutinho, do Tribunal de Justiça de Pernambuco, e a advogada Angélica Carlini, diretora da Carlini Sociedade de Advogados. O webinar foi moderado pela superintendente do Real Hospital Português, Jaquelinne Lira.

Entre outros temas, os debatedores também abordaram os riscos da judicialização na saúde, em que decisões isoladas acabam funcionando como “regulações anômalas” que deturpam direitos e deveres; a necessidade de transição para novos modelos de remuneração baseados na geração de valor para os pacientes; além da maior ênfase na prevenção e na atenção primária que deve advir a partir dos efeitos da pandemia na assistência à saúde.