Diz um ditado que o velejador pessimista reclama do vento forte, já o otimista espera que ele passe logo, e o sábio, por sua vez, ajusta as velas para imprimir velocidade ao barco.

pandemia de Covid-19, em suas ondas, escancarou a ineficiência do nosso sistema de saúde, e o problema se renova com a disseminação da variante ômicron. Mas, apesar das dificuldades, a crise sanitária é uma oportunidade de ajustar as velas em um setor que acumula desafios. O problema é que temos carecido de velejadores sábios.

Uma questão basilar é ampliar o acesso à saúde. Como o orçamento é limitado, a solução é combater desperdícios e usar de maneira inteligente a estrutura e os recursos disponíveis. Isso significa ampliar a atenção primária —é com ela que conseguimos prevenir uma miríade de doenças e manter sob controle as crônicas, que aumentam com o envelhecimento da população.

O paciente certo tem que ir para o lugar certo: casos de baixa complexidade, na atenção primária; média complexidade, na secundária; e alta complexidade, na terciária. Alguém com gripe no pronto-socorro, onde se pode atender uma pessoa com infarto, é um desperdício.

Quantas cidades não têm sequer um posto de saúde, mas têm um belo hospital, que acaba ocioso, sem demanda? E os hospitais prontos e equipados que permanecem fechados aguardando contratações?
É preciso uma assistência com base em protocolos e respaldada na ciência, sem prescrição de exames ou procedimentos desnecessários. Tecnologias digitais e telemedicina também são trunfos para manejar o barco da saúde e promover a inclusão.

Os ventos transformadores precisam permear inclusive o modelo de remuneração por serviço, que ainda impera na saúde suplementar e que, no fundo, premia a doença. Estratégias baseadas no conceito de valor em saúde (relação entre bons resultados do cuidado do paciente e custo) são instrumentos poderosos para impulsionar a qualidade da assistência, reduzir os desperdícios e ampliar o acesso.

Há outros desafios (como obter investimentos, prevenir fraudes, lidar com a judicialização), mas especialmente o de pôr o paciente como agente de cuidado da própria saúde. Precisamos educar e estimular um estilo de vida saudável, por exemplo, para combater sedentarismo, obesidade, tabagismo e controlar diabetes e hipertensão.

O acesso à boa informação ajuda a combater comportamentos deletérios, como o caso daquele que vai a vários médicos e faz repetidos exames para ratificar um mesmo diagnóstico. Olha tempo e dinheiro indo para o ralo!

E se temos vacinas disponíveis para combater a Covid-19 e prevenir mortes, temos que agradecer e estimular que as doses cheguem ao braço da população. Aqui a mensagem é que cada injeção amplia a chance de termos uma vida mais longa e saudável. Precisamos compreender a situação turbulenta em que vivemos, e, como o sábio velejador, ajustar as velas para que ele nos leve para o futuro que almejamos.

Se falharmos, continuaremos a ter um sistema de saúde que não consegue cumprir seu papel primordial: o de entregar saúde.