Do lado dos planos de saúde, a fusão de grandes grupos começa a incomodar, porque já existe a leitura de que as companhias que estão cada vez mais encorpadas irão avançar em mais segmentos no setor de saúde – e com potencial de atrair clientes de concorrentes. Analistas de bancos de investimento afirmam que há mais negócios para sair.

O sócio da consultoria PwC Brasil, Leonardo DelfOso, destaca que a consolidação está apenas no início, mesmo após um ano de recorde de transações para o setor no ano passado. “O que explica essas aquisições de hospitais não é apenas que os grandes grupos estão com robustez de caixa, mas também que as empresas estão querendo ganhar massa e racionalizar custos”, afirma ele, que lidera a área de fusões e aquisições na consultoria.

Dell’Oso lembra que hospitais sofreram no início da pandemia, com a suspensão de cirurgias eletivas (as não emergenciais), e as empresas que entraram na crise menos preparadas se tomaram alvo de aquisição de grupos maiores. “Muitos hospitais tiveram de buscar uma alternativa estratégica”, diz.

Ainda de acordo com o especialista em fusões, uma próxima onda de aquisições envolverá as healthtechs (as empresas de tecnologia do setor de saúde), um crescente alvo das empresas tradicionais do setor.

A perspectiva de que novas transações no setor devem acontecer é compartilhada pelo sócio da Ondina Investimentos, ítalo Miranda. “Os níveis de transações tendem a continuar bastante elevados, os compradores estão com pressão por verticalização”, diz.

Segundo ele, um movimento que pode começar a ser observado é o de aquisições por fornecedores de serviços, caso de redes de laboratórios, que estão mais pressionadas pelos grandes grupos concorrentes e podem começar a olhar também por exemplo, as operadoras de planos de saúde.

Para Dentro. A Rede D’Or, conhecida por ser agressiva em aquisições, tem feito anúncios de compras de hospitais periodicamente, se fortalecendo na primeira posição dos grupos de hospitais. Mas, ao incorporar a SulAmérica, colocando para dentro uma operadora de planos de saúde, a ideia não é fazer uma verticalização dos negócios, apostando no atendimento em uma rede própria. Isso não seria possível no segmento que ela atende, afirma um executivo próximo da empresa, que não quis ser identificado.

Segundo ele, no segmento mais acima da pirâmide, onde a Rede D’Or atua, não dá para verticalizar, mas dá para aumentar o mercado de atuação. A razão disso é que, no mercado de saúde de renda mais alta, o cliente não quer ser tratado apenas nos hospitais São Luiz, da Rede D’Or, mas em hospitais considerados topo de linha como o Albert Einstein ou o Oswaldo Cruz, ambos na capital paulista.

Por isso, a mensagem tem sido que a compra da SulAmérica não é um sinal de que a empresa se verticalizará, apesar do negócio trazer uma nova frente de crescimento.

Há ainda outras razões por trás do negócio que analistas de mercado ainda não computaram. A ideia da Rede D’Or com a transação é aumentar a sua oferta de serviços, ganhar mais eficiência (especialmente na estrutura corporativa) e acompanhar de forma ativa a saúde do cliente. E mais: quando a empresa abrir um novo hospital, esse sim o negócio que é o carro-chefe da Rede D’Or, o empreendimento já terá um plano de saúde em que estará credenciado, trazendo rentabilidade logo na largada.

O efeito em cadeia deverá mexer com os demais concorrentes. A operadora de saúde Amil, que repassou seus planos individuais para outra empresa – outro imbróglio do setor – ainda é grande em planos corporativos e possui alguns hospitais próprios, para os quais busca comprador. É por isso que tanto a Rede D’Or como a Bradesco Saúde, conforme fontes, estão de olho nesses ativos.