Depois de perderem mais de 3 milhões de beneficiários entre 2014 e 2017, os planos de saúde do Brasil começaram 2018 com um pequeno acréscimo de 101.638 clientes. Porém, a sustentabilidade do setor não depende apenas do retorno de usuários, dizem representantes dos planos. O uso exagerado dos serviços oferecidos e o alto custo de exames e cirurgias têm feito operadoras sofrerem para fechar as contas.

No fim, é o usuário quem arca com a chamada sinistralidade, que vai parar direto no boleto. Nos planos coletivos empresariais – a maioria –, os reajustes são definidos em acordo com a empresa contratante e consideram, primeiro, o uso feito pelos funcionários. Nos planos individuais, a alta é estipulada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mas também tem como base as despesas das operadoras.

“Toda vez que um paciente faz um hemograma, que custa R$ 4,00, e não precisa desse exame, está jogando dinheiro fora. Mas, se ele faz uma cirurgia cardíaca, que tem valor muito maior, mas vai trazer benefício para ele, aí não é caro. É muito importante o cliente ter essa cultura, do que realmente é essencial”, diz o diretor presidente da Unimed Santos, Claudino Guerra.

Para ele, a máxima de “uso porque estou pagando” é equivocada. “Ele ainda não pagou. O exame que faz hoje vai pagar no próximo ano. Aquele exame só por curiosidade, que não terá diferença nenhuma na vida dele, vai influenciar na sinistralidade e entrará na conta no ano que vem”, explica.

O diretor executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), José Cechin, afirma que as despesas das operadoras têm crescido muito e depressa. Uma causa é o envelhecimento da população: quanto mais idade a pessoa tem, mais usa o plano.

“Cada pessoa deveria fazer a gestão da sua saúde, adotando hábitos que permitam envelhecer com menos doenças. Isso pode fazer com que as despesas (dos planos) não cresçam em ritmo alucinante. As operadoras também têm essa responsabilidade, desenvolvendo meios para que as pessoas adquiram hábitos saudáveis”.

Outro desafio, diz o representante da FenaSaúde, é mudar a atual forma de pagamento dos planos para serviços prestados por terceiros. Para ele, há excesso de gastos. Hoje, numa cirurgia, o plano paga por item: o médico, a enfermeira, o anestesista, as agulhas, as gazes. O hospital se remunera em cima dessa quantidade: quando mais usa, mais retorno tem.

“A lógica é pagar um valor fixo. Se o hospital usar coisas baratas e der problema, responsabilidade dele. Se usar material caro e tiver prejuízo, também. Estou induzindo a usar na medida certa, que não prejudique o paciente nem o bolso. É fazer com qualidade e economicidade”, ressalta Cechin.

Para o diretor da linha Community da Amil (maior operadora do Brasil), Heraldo Jesus, a saúde suplementar deve evoluir para um modelo mais preventivo e coordenado. Segundo ele, a Amil já investe nesse cuidado. “As características da carteira de clientes são avaliadas e servem como base para o desenvolvimento de ações adequadas às necessidades individuais dos beneficiários. Buscamos incentivá-los a se engajar na gestão da própria saúde”.

Palavra da ANS

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) afirma que vem atuando para melhorar sustentabilidade financeira do setor e o acesso à assistência à saúde frente à tendência de alta nos custos.

“Mudanças demográficas e epidemiológicas exigem ações voltadas ao cuidado preventivo. O diagnóstico precoce de doenças crônicas e a adoção de hábitos de vida saudáveis permitem o convívio com a doença de forma controlada. Além disso, o cuidado reduz atendimentos mais complexos e custosos, como os prestados em ambiente hospitalar”, diz a ANS, em nota.

Em 2011, a agência regulamentou incentivos a beneficiários participantes de programas para promoção da saúde e prevenção de doenças. Podem ser oferecidos descontos na mensalidade do plano, por exemplo. “Hoje, há 1.700 programas ofertados pelas operadoras, que, juntos, atendem 2.139.446 beneficiários”.