A pandemia de Covid-19 deixou a aposentada Ivone Vale Montavani, cardiopata, de 79 anos, angustiada. Como milhões de brasileiros acometidos por doenças crônicas — só nos programas de acompanhamento dos planos de saúde são 2,5 milhões — ela temia que dar continuidade ao tratamento pudesse aumentar o risco de contaminação pelo novo coronavírus.

— Não sabia o que fazer. Quando minhas médicas me ligaram e informaram que manteriam meu acompanhamento à distância foi um alívio. Elas me mandam os exercícios físicos para fazer em casa e ainda falo com a psicóloga toda semana — conta Ivone, que faz acompanhamento também com cardiologista, geriatra, fisioterapeuta e nutricionista.

Atendimento à distância

Consultas on-line, ligações semanais, mensagens por WhatsApp, visita de enfermeiros, entrega de medicamentos. Os planos de saúde tiveram que inovar e aumentar o contato com seus usuários para manter doentes crônicos e pacientes que inspiram cuidados em dia com seus tratamentos na quarentena.

O número de pessoas envolvidas nas iniciativas de promoção de saúde e prevenção, no entanto, ainda representa pouco mais de 5% dos mais de 46,8 milhões de usuários da saúde suplementar do país. De olho nos dados, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) tem promovido reuniões virtuais com operadoras para saber as estratégias adotadas durante a pandemia:

— Ficamos especialmente preocupados com a possibilidade de beneficiários com doenças crônicas interromperem seus tratamentos por medo de sair de casa. A crise sanitária deixou ainda mais evidente a importância desse cuidado coordenado e pode ser uma forma de aumentar o engajamentos dos usuários nessas iniciativas — diz Rogério Scarabel, diretor-presidente substituto da ANS.

Para chamar atenção dos consumidores para os programas, a ANS está prestes a assinar um convênio com um instituto de pesquisa para desenvolver uma metodologia de avaliação e atribuir uma nota a cada iniciativa:

— A ideia é que esses programas sejam vistos como um critério para escolha do plano de saúde — afirma Scarabel.

A busca ativa pelos pacientes e a telemedicina são instrumentos importantes para aumentar o engajamento dos usuários. Usando essas duas ferramentas, o Grupo NotreDame Intermédica, do qual Ivone é cliente, expandiu em 40% os atendimentos nos programas de medicina preventiva durante a pandemia:

— O teleatendimento foi a forma que o mercado encontrou para ter resolutividade sem expor os pacientes — diz Walter Moschella, diretor médico do grupo.

A autogestão Saúde BRB, com pouco mais de nove mil usuários, em Brasília, também registrou alta de 36% nas consultas, de março a junho.

— Antes do coronavírus apenas 10% dos atendimentos eram via telemedicina. Hoje 90% são à distância — ressalta Maria Luiza Barros, coordenadora de Serviços de Saúde da empresa.