O consumidor deve preparar o bolso porque os preços dos serviços de saúde subirão – e muito – em 2016. Estudo encomendado pela Confederação Nacional de Saúde (CNS) aponta que a inflação médica será de pelo menos 20%. A carestia será puxada, principalmente, pela alta do dólar, pois boa parte dos medicamentos, insumos e equipamentos são comprados em moeda estrangeira. Com o aumento, empresas e médicos repassarão parte dos custos para consultas, exames e tratamentos. “Não haverá escapatória”, diz o presidente da CNS, Tércio Egon Paulo Kasten. O alerta vale, inclusive, para os planos de saúde que, sistematicamente, têm sido reajustados acima do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que encerrou 2015 em 10,67%, o nível mais elevado em 13 anos.

A inflação da saúde sofre pressões de todos os lados. Além do dólar, destaca Kasten, clínicas, laboratórios e hospitais terão de arcar com as despesas inerentes às novas tecnologias. Segundo ele, as empresas precisam renovar a compra de aparelhos, produtos farmacêuticos, órteses e próteses para realizar tratamentos cada vez mais avançados. “Ainda temos que bancar os gastos com mão de obra, que é especializada e bem remunerada”, frisa. Esses custos são repassados aos convênios médicos, que não se acanham em corrigir as mensalidades cobradas da clientela. A perspectiva do mercado é de que os planos de saúde individuais, controlados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), aumentem pelo menos 15%. Já os coletivos, que têm reajustes livres, ninguém se arrisca a projetar.

Kasten explica que o aumento dos preços dos serviços a ser repassado aos planos de saúde será negociado com as operadoras. Por lei, há previsão de reajuste anual. Ou seja, a atualização das mensalidades dos convênios já está contratada. O presidente da CNS ressalta, porém, que os tratamentos particulares devem ser os mais afetados pela inflação, porque as empresas têm autonomia para definir os valores. “Os custos do setor de saúde são elevados em todo o mundo. Ainda estávamos mais baratos em relação a vários países. Mas perdemos competitividade. Já não é mais interessante para um estrangeiro se tratar no Brasil do ponto de vista financeiro”, afirma.

DISCURSO PRONTO O encarecimento dos serviços de saúde pressiona a renda dos brasileiros desde o ano passado. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse item teve alta de 10,87%. Portanto, acreditam especialistas, esse será o piso para os reajustes propostos pelos convênios neste ano. Antecipando-se às discussões, a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), ligada às operadoras, mostra que, nos 12 meses encerrados em setembro de 2015, as receitas dos convênios aumentaram 12,8% e as despesas, 14,9%.

A assessora de relações exteriores Marcela Cunha, de 31 anos, não esconde a preocupação. Ainda que ela tenha um plano diferenciado, graças à mãe, que é médica, pelo qual paga R$ 400 por mês, teme um aumento exagerado. “Infelizmente, não dá para depender de sistema público de saúde (SUS). Como filha de médicos, fico envergonhada de morar em um país que não prioriza a saúde, onde as pessoas têm dificuldades para fazer exames básicos”, frisa. Marcela também reclama dos preços dos remédios. “Está tudo muito caro. Temo pelas pessoas mais pobres”, ressalta.

Sistema mais pressionado

Presidente do conselho de administração da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Francisco Balestrin diz que a inflação da saúde está impondo desafios às empresas. “Os custos sobem muito mais do que as receitas”, afirma. Ele ressalta que, em 2015, não houve sequer aumento de faturamento. “Pelo contrário, as receitas líquidas do setor recuaram 1,8% em relação ao ano anterior. Já as despesas apontaram alta de 8,3%”, acrescenta. Pelos cálculos do executivo, em 2016, ao menos 30% dos insumos hospitalares encarecerão, uma vez que são importados. Será difícil evitar o repasse aos consumidores.

Para Balestrin, além do dólar, que subiu quase 50% em 2015, a maior alta anual desde 2002, os hospitais sofreram com a forte correção das tarifas públicas, em especial a da energia elétrica. Diante desse quadro, ele acredita que o modelo de financiamento da saúde no país precisa ser rediscutido, uma vez que a sociedade está perto do limite de gastos. “As companhias e as famílias são afetadas pela crise, e os problemas se mostrarão maiores do que o esperado. Tudo isso precisa ser discutido”, pondera.

Na avaliação do economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), a tendência da inflação da saúde é de alta nos próximos anos, em virtude do processo de envelhecimento da população. Ele destaca que os idosos demandarão cada vez mais tratamentos e destinarão parte significativa do orçamento para os convênios médicos, os exames e a compra de medicamentos. “É necessário que o os governos tenham políticas públicas adequadas para atender aos anseios da sociedade. Com o aumento do desemprego, mais pessoas precisarão dos serviços oferecidos pelo Estado”, diz.