A Unimed-Rio registrou prejuízo de R$ 578 milhões em 2014 — resultado já revisto este ano e bem acima dos R$ 199 milhões negativos inicialmente divulgados — e um lucro de apenas R$ 30 milhões em 2015, e não um resultado positivo de R$ 353 milhões conforme apresentado anteriormente. Os valores — contabilizados a partir de nova auditoria nas demonstrações financeiras realizada pela BKR — foram informados na manhã desta sexta-feira aos 5.400 médicos da cooperativa carioca. A empresa vai convocar uma assembleia geral para o dia 20 deste mês para aprovar os dois balanços e o rateio de perdas. O passivo soma R$ 1,9 bilhão.
Sob direção fiscal da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) há dois anos e sob risco de ser liquidada, a cooperativa corre contra o relógio para reequibilibrar as finanças e manter as atividades. Em outubro, contratou o banco Santander como assessor financeiro, num esforço para vender ativos do grupo, garantindo receita para reduzir o endividamento.
Se alguma proposta de aquisição de ativos for formalizada, diz Romeu Scofano, presidente da Unimed-Rio, poderá ser apresentada na assembleia para aprovação:
— A transação pode ser a compra dos imóveis ou das operações. Temos hospital, centro de oncologia, de fisioterapia de ponta, unidades de pronto-atendimento, a sede, salas na Rua do Ouvidor. (Os investidores) podem comprar, por exemplo, só o prédio do hospital ou apenas a operação, ou seja, a prestação de serviço da unidade. Ainda pode ser proposto um negócio misto. O Santander só nos apresentará a proposta quando houver a formalização — diz Scofano, destacando que haveria quatro grupos interessados.
A venda de ativos, continua o presidente da cooperativa, seria fundamental para cumprir uma das cláusulas do Termo de Compromisso assinado pela Unimed-Rio com o Ministério Público no fim de novembro, que estabelece o pagamento das dívidas de curto prazo com instituições financeiras no valor de R$ 120 milhões:
— Essas são as dívidas de mais difícil negociação — admite Scofano.
O termo assegura 90 dias de trégua à cooperativa, livre do risco de liquidação, desde que garanta o atendimento regular aos cerca de 800 mil beneficiários e crie condições para a recuperação da empresa. Para que isso se concretize, a Unimed-Rio tem até o dia 20 para aprovar em assembleia a aprovação dos balanços de 2014 e 2015, anteriormente recusados pelos cooperados, com os rateios de perdas.
A ginástica financeira é puxada. O termo prevê aporte mensal dos cooperados no valor de R$ 10 milhões. E também o refinanciamento em 60 meses das dívidas da cooperativa. Scofano prevê que o recurso para repor as perdas dos dois últimos anos deverá vir de um desconto do faturamento dos cooperados, que já têm uma redução de 30% no pagamento mensal.
— É fundamental para a companhia a aprovação das contas e do rateio das perdas. Para não sobrecarregar os cooperados, pensamos em um aumento de um a dois pontos percentuais (no desconto mensal), mas essa é uma decisão que deve ser tomada pela assembleia — diz o presidente da cooperativa, que aposta num aumento dos aportes voluntários, após a reunião do dia 20. — Até agora, 550 cooperados nos procuraram, o que totaliza cerca de R$ 25 milhões em forma de adiantamento. Depois da assinatura do termo e da assembleia, acreditamos que esse número irá aumentar.
Na última assembleia, os médicos da cooperativa se negaram a fazer um aporte de R$ 500 milhões, que era uma das medidas de curto prazo previstas no plano de recuperação da Unimed-Rio. Eles se queixam de falta de transparência na apresentação dos resultados financeiros, diz um médico cooperado presente ao encontro, mas que preferiu não se identificar.
COOPERADOS CRIAM ASSOCIAÇÃO
A cobrança pela apresentação criteriosa dos números dos balanços deve crescer. Um grupo de cerca de 500 cooperados está reunido na Associação dos Cooperados e Ex-cooperados da Unimed Rio (Amecoop), criada em outubro.
— A nova diretoria não tem agido de forma transparente. A associação reclama a realização de uma perícia nos balanços de 2014 e 2015, e não apenas uma auditoria. Houve fraude e má gestão, resultando em perdas para a cooperativa. É preciso esclarecer exatamente o que cabe à antiga administração e o que deverá ser rateado pelos cooperados — disse uma fonte ligada à associação.
Segundo Scofano, dos R$ 200 milhões que a Unimed-Rio devia às cooperativas do sistema, mais de R$ 120 milhões foram renegociados para pagamento em 60 meses, com a assinatura do Termo de Compromisso. A maior dívida, conta ele, era com a Federação das Unimeds do Rio, de R$ 80 milhões, seguida pelas da Central Nacional das Unimeds e da Unimed Brasil:
— Decidimos negociar dos maiores valores para os menores, estamos negociando com várias.
Em direção fiscal há dois anos, a Unimed-Rio está em direção técnica desde outubro. O Termo de Compromisso, capitaneado pelo Ministério Público do Estado do Rio, com entidades representativas de hospitais, clínicas, laboratórios clínicos e regionais do sistema Unimed, precisa ser validado por, ao menos, 80% da rede prestadora de serviços da cooperativa, que devem assinar o termo de adesão até o dia 14 de dezembro.