O empresário José Seripieri Filho, o Júnior, fundador da administradora de planos de saúde coletivos Qualicorp, foi preso alvo de uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo. A operação investiga suposto caixa dois de R$ 5 milhões ao ex-governador José Serra (PSDB) na campanha de 2014, quando foi eleito ao cargo que ocupa hoje no Senado Federal.

Segundo a promotoria, o inquérito contou com a colaboração de pessoas que teriam sido contratadas em 2014 para estruturar e operacionalizar os pagamentos de caixa dois – “efetuados supostamente a mando de acionista controlador de importante grupo empresarial do ramo da comercialização de planos de saúde”.

A Qualicorp informou que a operação realizou “busca e apreensão de documentos na sede da companhia e em outros locais, tendo entre os investigados José Seriperi Júnior, ex-diretor presidente da companhia”.

A administração da empresa disse que “adotará as medidas necessárias para apuração completa dos fatos narrados” e que vai colaborar com as autoridades. O advogado do empresário, Celso Vilardi, disse que a prisão é “injustificável” (leia a nota ao final do texto).

José Seripieri Filho

Fundador da Qualicorp, que hoje tem 8,6 bilhões de reais em valor de mercado na bolsa de valores B3, Júnior atualmente tem uma fatia de apenas 2% da companhia. Ele deixou a presidência da empresa em novembro do ano passado, após vender parte de sua participação no negócio para a empresa de hospitais Rede D’Or. Foi substituído na presidência da companhia pelo executivo Bruno Blatt.

O principal acionista da Qualicorp hoje é a Rede D’Or. A companhia comprou 10% da Qualicorp em agosto de 2019 e hoje tem 12,95% da empresa. O segundo maior acionista é o Opportunity, com 5,55%.

A Qualicorp é líder no mercado de administradoras de planos de saúde. Tem 2.000 funcionários diretos e 2,5 milhões de beneficiários. Reúne 522 entidades de classe, 32.000 empresas como clientes e 64 operadoras parceiras.

Antes de vender sua participação na companhia, Júnior havia feito um acordo polêmico de não competição com a companhia fundada por ele. Pelo acordo, a Qualicorp concordou em pagar uma indenização de 150 milhões de reais para que Júnior não atue em competição com a Qualicorp.

Após ter deixado a empresa, Júnior começou a gestar uma nova companhia, batizada de QSaúde, uma operadora de saúde com foco no uso da tecnologia da informação para oferecer melhor experiência ao usuário.

Investigação

Em nota, o Ministério Público de São Paulo disse que, após a formalização de acordos de colaboração premiada, “foram desenvolvidas medidas investigativas diversas, como a quebra do sigilo bancário, intercâmbio de informações com o COAF e os testemunhos de pessoas relacionadas aos fatos”.

A investigação constatou “a existência de fundados indícios do recebimento por José Serra de doações eleitorais não contabilizadas, repassadas por meio de operações financeiras e societárias simuladas, visando assim a ocultar a origem ilícita dos valores recebidos, cujo montante correspondeu à quantia de R$ 5 milhões”, diz a promotoria.

A Polícia Federal apontou ainda que a investigação identificou outros pagamentos, “em quantias também elevadas e efetuados por grandes empresas, uma delas do setor de nutrição e outra do ramo da construção civil, todos destinados a uma das empresas supostamente utilizadas pelo então candidato para a ocultação do recebimento das doações”. “Tais fatos ocorreram também perto das eleições de 2014 e serão objeto de aprofundamento na fase ostensiva das investigações”, afirmou a corporação.

De acordo com a PF, os investigados podem responder pelos crimes de associação criminosa, falsidade ideológica eleitoral e lavagem de dinheiro.

Posicionamento do advogado

Em nota divulgada na noite desta terça-feira, o advogado de José Seripieri Filho, Celso Vilardi, disse que a prisão do empresário é injustificável. “Os fatos investigados ocorreram em 2014, há seis anos portanto, não havendo qualquer motivo que justificasse uma medida tão extremada”, disse.

Afirma ainda que “colaboradores mencionados no Inquérito não acusam Seripieri de ter feito doações não contabilizadas. Relatam que ele fez um mero pedido de doação em favor de José Serra e que a decisão de fazer a doação, assim como a forma eleita, foi decisão de um dos colaboradores. Portanto, não há qualquer razão ou fato, ainda que se considere a delação como prova (o que os Tribunais já rechaçaram inúmeras vezes), que justifique medidas tão graves”.