Em evento online organizado pela consultoria Valuup, na última semana, Bruno Zanata, diretor do Hospital XV, de Curitiba, indicou que percebeu 70% de redução no volume de atendimentos. Uma realidade que começa a se tornar crítica nas instituições particulares. “De 40 a 60 dias, isso irá impactar o caixa dos hospitais”, indicou o dirigente. O mais preocupante, destacou ele, é o cenário futuro: poderá haver demissões no setor e menos parcerias com planos de saúde – o que, inevitavelmente, incharia o sistema público de saúde.

Nas últimas semanas, Ministério da Saúde e secretarias estaduais e municipais emitiram orientações para que os hospitais privados (exceto oncológicos, psiquiátricos e maternidades) reduzissem as cirurgias eletivas (aquelas que não têm urgência) e internamentos não emergenciais. O direcionamento faz parte do plano de ação para que leitos estejam disponíveis para uma possível alta nos números de pacientes com Covid-19. “Enquanto isso, temos reduzido os serviços, trabalhado com banco de horas e tentado cuidar do caixa no dia a dia”, indicou Zanata.

“O cancelamento dos procedimentos eletivos fez com que a maior parte das receitas dos hospitais, que são provenientes desse tipo de atendimento, deixasse de existir, mas o custo fixo permaneceu e os custos variáveis, com equipamentos de proteção individual, os EPIs, dispararam de forma tão abrupta quanto a própria pandemia do Covid-19”, avalia Flaviano Feu Ventorim, presidente do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Paraná (Sindipar).

De acordo com pesquisa da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), o Ebtida (que é lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) dos hospitais privados terá queda mensal de R$ 800 milhões neste período de pandemia. No Paraná, Ventorim indica que ainda não é possível medir a queda nas receitas, “mas os hospitais privados, na última semana, têm reportado ocupação entre 40% e 50%, sendo na maioria pacientes clínicos graves”, diz. “Lembrando que, em média, o paciente cirúrgico gera uma maior receita para os hospitais. Desta forma, o impacto no faturamento será muito grande”, afirma.

Futuro incerto para os hospitais privados

Somente no caso dos EPIs, os preços chegaram a disparar mais de 1.000% nesta crise, quando não desapareceram do mercado. Equipamentos como respiradores e monitores, quando encontrados, também sofreram aumento, potencializado pela alta do dólar.

Outro fator complicou a situação dos hospitais: não conseguir mais comprar EPIs a prazo. Com a alta procura por estes materiais, os fornecedores passaram a pedir pagamento adiantado. “O que arrebenta o fluxo de caixa dos hospitais que recebem dos convênios em média com 45, 60 dias depois da alta do paciente. Quem não tem lastro financeiro ou não receber ajuda do governo corre, sim, risco de fechar”, diz o presidente do Sindipar.

Somado a isso, há o custo do absenteísmo, ou seja, o que se paga em hora extra para trabalhadores que cobrem a ausência de funcionários doentes ou afastados. “Os afastamentos por suspeita de Covid-19 duram em média 14 dias e não há escala de trabalho que resista a uma situação dessas. Os hospitais estão tendo que afastar os empregados como qualquer empresa, mas, ao mesmo tempo, são a grande linha de defesa da população. É uma equação muito difícil de fechar”, aponta Ventorim.

Os hospitais estimam aumento desse custo na ordem de 50%.

De acordo com os dirigentes hospitalares, as instituições têm buscado fórmulas para se manter.  Mas, sem um horizonte para o fim da crise, o futuro ainda segue incerto.