O reajuste dos planos de saúde corporativos, que representam cerca de 65% do mercado, deve ficar na casa dos 18% neste ano no Brasil. Esse percentual é o dobro da média mundial e um dos maiores reajustes considerando um grupo de 55 países. Os dados são de uma pesquisa realizada pela consultoria Willis Towers Watson.

Os maiores aumentos estão concentrados em países com problemas de hiperinflação ou desvalorização da moeda local como a Venezuela, cujo acréscimo previsto é de 200%. Na Zâmbia e Moçambique, estima-se que o preço do convênio médico tenha uma alta de 30% neste ano.

Pelo menos desde 2014, o reajuste dos planos de saúde no Brasil tem sido um dos mais elevados do mundo. Em 2015, o índice foi de 15,7% e em 2014 ficou em 14,1%. Os percentuais se referem a reajustes médios pedidos pelas operadoras de saúde. No Brasil, a maior parte dos contratos de convênio médico empresarial é renovada no segundo semestre. O cálculo normalmente é feito com base no índice de sinistralidade apurado no ano anterior – sendo que o ponto de equilíbrio é 75%.

Segundo Cesar Lopes, consultor sênior de saúde e benefícios da Willis Towers Watson, a alta no país é explicada por uma combinação de fatores. “No Brasil, temos um modelo de plano de saúde em que o risco é praticamente todo da empresa que dá o benefício ao funcionário. O usuário não tem a cultura de um uso responsável”, disse. Ele observou que 50% dos custos do convênio médico vêm de internações, mas a outra metade refere-se ao aumento de frequência de procedimentos médicos, sejam consultas ou exames. “É muito comum, no Brasil, a pessoa repetir consultas e exames”, acrescentou.

Nos Estados Unidos, os planos de saúde devem ter um reajuste de 5% neste ano, segundo dados da National Business Group on Health. Esse percentual baixo é atribuído à inflação geral americana, que é inferior a 1%, e também ao modelo seguido no país, de seguros médicos com franquia – mecanismo criado para controlar a frequência de uso do plano, semelhante ao adotado em seguro de automóvel. Assim, o usuário que adere a um convênio médico com uma franquia de US$ 1 mil, paga pelos procedimentos médicos até atingir esse valor. Acima disso, a operadora assume os custos. Quanto maior a franquia, menor o valor desembolsado por mês pelo cliente. A ideia central desse modelo é que a operadora pague apenas os procedimentos de alto custo. No Brasil, a ANS está estudando esse formato.

“Também contribui para o reajuste elevado no Brasil a constante inclusão de itens ao rol de procedimentos obrigatórios, com o agravante de que as novas tecnologias não substituem as antigas e há um acúmulo de procedimentos”, disse Lopes. Ele afirmou que é comum um médico pedir vários exames similares ao mesmo tempo para o mesmo paciente.