Apesar da queda no IPCA, projetada em 3,5% neste ano, a inflação médica (custos de consultas, exames, materias, medicamentos, despesas hospitalares, honorários médicos e salários) continua subindo em patamares expressivos. Em 2017, os planos de saúde corporativos devem sofrer um reajuste na casa dos 17% e a expectativa é que a tendência de alta permaneça em 2018. Esse cenário é unanimidade entre as principais consultorias especializadas em saúde Aon, It’s Seg, Mercer Marsh e Willis Towers Watson consultadas pelo Valor.

Os planos de saúde corporativos, benefício concedido pelas empresas a seus funcionários, representam 66,5% do setor. Já os planos de saúde coletivos por adesão, que equivalem a 13,5% do mercado, devem ter reajuste médio de 22% neste ano. Os convênios médicos individuais, modalidade regulada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), aumentaram 13,55%.

Nos planos corporativos, o reajuste varia de 14,82% no caso da Hapvida a 20,4% na Care Plus (ver ao lado). Porém, esses percentuais variam conforme a frequência de uso (sinistralidade) do convênio.

Segundo dados da Aon, nos últimos cinco anos, a inflação médica acumulada é de 108% contra 42% da inflação geral. “O gasto médio por usuário, em 2016, foi de cerca de R$ 3,6 mil e em 2014 foi de R$ 2.890. Dessa diferença [R$ 710], R$ 324 correspondem apenas ao aumento de frequência, o que representa quase 10% de impacto no custo”, enumera Rafaella Matioli, diretora de consultoria de saúde e benefícios da Aon Brasil.

Além da frequência do uso, o custo do convênio médico aumenta devido ao envelhecimento da população, à alta do dólar e à inclusão de novos procedimentos médicos obrigatórios, determinada pela legislação a cada dois anos – a próxima revisão será em 2018. Segundo a It’s Seg, o novo rol de procedimentos deve elevar o custo entre 0,5% e 1%. Já a Fenasaúde, federação do setor, acredita que esse percentual pode chegar a 4%.

O Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) fez um levantamento sobre a origem dos custos. Considerando um reajuste de 19,3%, cerca de metade vem de consultas, procedimentos ambulatoriais e exames (9%). A outra fatia é proveniente de materiais, despesas hospitalares, honorários médicos e medicamentos (9,2%) e uma pequena parcela de 1,1% refere-se a salários e despesas gerais.

“A tendência é de aumento porque a população brasileira está envelhecendo e temos um modelo de remuneração que incentiva o gasto. Não podemos continuar com esse modelo em que o usuário do plano de saúde assina uma folha em branco”, disse Marcelo Avena, presidente da Willis Towers Watson em referência ao modelo de conta médica aberta praticada no Brasil.

As consultorias especializadas em saúde também defendem o acompanhamento sistemático de pacientes crônicos como mecanismo para frear a alta crescente do preço do plano de saúde – que é a segunda maior despesa da área de recursos humanos, atrás apenas dos salários. Segundo Thomaz Menezes, presidente da It’s Seg, cerca de 75% das mortes estão relacionadas a doenças crônicas e esse público gasta sete vezes mais do que o paciente saudável. As pesquisas também mostram que é cada vez maior a incidência de casos de câncer no mundo, cujos tratamentos são onerosos. Das 174 seguradoras entrevistadas pela Willis, o câncer foi relatado entre as três doenças mais prevalentes.

O envelhecimento da população é visto como outro fator que está elevando os reajustes. Entre 55 e 79 anos, o custo do convênio médico têm um acréscimo de 4,5%. Já na faixa etária anterior, de 25 a 54 anos, na qual está a maior parte dos funcionários com plano de saúde corporativo, o incremento é de 2,5%, de acordo com levantamento da Mercer Marsh.

Como já vem ocorrendo há alguns anos, o reajuste nos convênios médicos no Brasil está entre os maiores no mundo. Neste ano, a média mundial é 7,8% e na América Latina, esse percentual é de 13,5%, segundo as consultorias.