A cidade de São Paulo ganha no próximo dia 15 um novo hospital voltado à classe A. O Vila Nova Star, da Rede D’Or, chega com alta tecnologia, hotelaria seis estrelas e com a meta de concorrer com os tradicionais Albert Einstein e Sírio-Libanês.

O momento, porém, não é dos melhores. A Rede D’Or, maior grupo de hospitais privados do país, e a Amil, maior operadora de planos de saúde, estão em pé de guerra.

Hospitais da rede no Rio e em São Paulo estão interrompendo o atendimento a usuários da Amil seja por decisão da operadora seja por iniciativa da Rede D’Or.

O Copa ​D’Or, que inaugurou em 2016 a linha de luxo da rede, nunca atendeu clientes da Amil e o grupo suspenderá o atendimento a outros planos da operadora partir a de 21 de junho. O Vila Nova Star tampouco foi credenciado pela Amil.

A Rede D’Or estima que cerca de 1 milhão de pessoas, que têm planos de saúde top, seja no Brasil ou em outros países, são clientes potenciais do novo hospital, instalado no Itaim Bibi (zone oeste). O setor suplementar brasileiro tem cerca de 48 milhões de usuários.

“Estamos vindo com as mais avançadas tecnologias e práticas assistenciais e com diferenciais que o Sírio e o Einstein não têm”, afirma Paulo Moll, vice-presidente da Rede D’Or São Luiz, em entrevista concedida antes de a crise com a Amil se tornar pública.

Moll acredita que o grupo terá no mercado de São Paulo o mesmo sucesso obtido no Rio. “Hoje, nós temos de 70% a 80% dos planos top do Rio. Parte disso eram os cariocas que vinham para São Paulo [antes do Copa D’Or].”

Segundo ele, por ter uma rede com 44 hospitais no país, o grupo tem maior vantagem competitiva, com redução de custos assistenciais e mais recursos para investimentos.

“Vamos ter funcionários assistenciais em quantidade superior à deles [12 por leito, contra 10 dos hospitais premium e cinco de média do setor]. Estamos investindo mais em tecnologia médica do que os nossos concorrentes.”

Com 90 leitos e investimento de R$ 350 milhões, o Vila Nova Star terá como âncora uma unidade oncológica comandada pelo médico Paulo Hoff, que chefia toda a área de câncer da rede.

Uma das novidades é um equipamento de radiocirurgia de terapia robótica que permite tratar tumores como os de pulmão, fígado e próstata com maior precisão e menos efeitos colaterais. “O tratamento será mais rápido, menos tóxico e com efeito superior ao que já existe”, diz Hoff.

Entre outros diferenciais do hospital está o setor de emergência, que tem boxes individuais equipados com banheiro. “O paciente não tem que ficar esperando atendimento sentado na cadeira”, diz Moll.

Nos quartos, camas inteligentes avisam a enfermagem sobre o risco de queda do paciente. Elas também são programadas para evitar as úlceras de pressão. Na alimentação, o cardápio é assinado pelo chef francês Roland Villard.

Cada paciente terá um tablet por meio do qual poderá fazer videochamada com o posto de enfermagem, controlar as luzes e as persianas.

Nesse momento em que o setor da saúde suplementar ainda sente os reflexos da perda de mais de 3 milhões de usuários em razão da crise econômica nos últimos anos, há mercado para mais um hospital voltado à classe A?

Segundo Moll, sim. “Noventa leitos serão poucos. Só o Paulo Hoff e equipe devem ocupar metade deles. Vamos trazer algo que o mercado de São Paulo ainda não tem.”

Para o médico Walter Cintra Ferreira Júnior, coordenador do curso de gestão de saúde na Fundação Getúlio Vargas (FGV), não há mercado sobrando, mas, sim, um nicho que será disputado com o Einstein e o Sírio.

“Não há demanda desassistida. Eles resolveram entrar num segmento para disputá-lo numa luta sanguinária. Estão chegando com um corpo clínico qualificado e muito investimento tecnológico.”

No momento, segundo ele, os hospitais concorrentes ainda sofrem os efeitos da crise. “O Einstein e o Sírio fecharam leitos, houve cortes de pessoal. Eles ampliaram, ampliaram, mas a economia retraiu.”

Segundo o presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, Sidney Klajner, em 2018 a taxa de ocupação de leitos passou de 87% para 80%.

“As pessoas perderam seus planos premium ou preferiram protelar tratamentos complexos. O hospital passou por adequações, demissões e fechamento de leitos, mas isso já está superado. Neste momento estamos fazendo contratações de emergência.”

O diretor-geral do Hospital Sírio-Libanês, Paulo Chapchap, disse à Folha que não comentaria o assunto.

Outro debate que a chegada do Vila Nova Star tem suscitado no setor é se nesse momento em que se prega racionalidade nos custos da saúde há espaço para tanto requinte e alta tecnologia.

“Será preciso gerar demanda para essa tecnologia toda. Quando você cria pressão na demanda sem necessidade, há impacto na sinistralidade dos planos de saúde e no aumento das mensalidades.”

Para Ferreira Júnior, luxo e tecnologia não agregam valor aos resultados. “A oferta de coisas supérfluas, que não têm impacto no chamado valor de saúde, só eleva o custo. Pode gerar valor para os acionistas, mas não para a saúde.”

Na opinião do economista Paulo Furquim, professor do Insper, do ponto de vista empresarial, o negócio é lucrativo. “Como as informações mais relevantes sobre a qualidade de um hospital [como taxa de infecção] não estão disponíveis, os pacientes acabam escolhendo com base em informações de hotelaria.”

Mas, segundo ele, isso onera o sistema de saúde sem que haja uma melhoria correspondente na qualidade.

Sidney Klajner, do Einstein, concorda. “Agregar valor ao tratamento é agregar experiência, e ela não está ligada a amenidades. Há pesquisas mostrando que, para o paciente, o mais importante é que o profissional de saúde o escute e lhe dê confiança. Os últimos itens citados foram comida boa, requinte e outras amenidades.”