Estudos epidemiológicos comprovam que a má alimentação é um principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como câncer, diabetes e doenças cardiovasculares. Hábitos nutricionais como o baixo consumo de frutas e hortaliças e o consumo excessivo de alimentos industrializados com alto teor de sódio e açúcar resultam no aumento dos casos de sobrepeso, obesidade, hipertensão arterial e hipercolesterolemia.

Para mudar esta realidade, as operadoras de saúde devem oferecer incentivo e apoio para que seus beneficiários adotem hábitos mais saudáveis. Ou seja: devem investir em programas de reeducação alimentar.

A maioria dos hábitos alimentares são estruturados na infância, tradicionalmente no ambiente familiar ou a partir de outros contextos culturais, como etnia ou religião. Contudo, os avanços da indústria alimentícia, da publicidade e das mudanças no estilo de vida vêm influenciando cada vez mais a formação destes hábitos. É cada vez mais difícil manter uma dieta saudável e não cair nas tentações da alimentação “prática e rápida”, mas pobre em nutrientes e causadora de doenças.

Diante disso, é fundamental que as operadoras ofereçam programas de reeducação alimentar focados em três pilares: mudança de hábitos, manutenção da saúde e prevenção de doenças. Por meio de ações unindo informação, apoio psicológico e troca de experiências é possível trazer mais qualidade de vida aos beneficiários, reduzindo a incidência das doenças crônicas e o custo que elas geram aos planos de saúde.

Estruturando um programa de reeducação alimentar

Antes de tudo, é preciso definir para que perfil de beneficiário o programa será dirigido. Dentro de uma estratégia de medicina preventiva, é possível (e recomendável) desenvolver estratégias específicas para públicos diferentes. Portanto, seu programa pode ser focado em crianças, adolescentes, idosos, pacientes pós-cirurgia bariátrica ou então direcionado para perfis selecionados de acordo com outros indicadores de saúde.

Para auxiliar as operadoras na tarefa de identificar estes beneficiários, convidá-los a participar dos programas, realizar a coleta e o acompanhamento dos indicadores, além de organizar o processo de gestão existem softwares especializados em medicina preventiva, como o Previva, que permitem coordenar todas as etapas, bem como mensurar e avaliar os resultados obtidos.

Geralmente, os programas de reeducação alimentar têm duração de seis meses a um ano, com encontros semanais em grupo. Após este período, recomenda-se manter uma rotina de acompanhamento que pode envolver encontros mensais e telemonitoramento por um período determinado, tudo controlado pelo software.

Equipe e conteúdo do programa

De acordo com o público-alvo definido para o programa de reeducação alimentar, o gestor de medicina preventiva deve contar não apenas com o apoio de nutricionistas, mas envolver uma equipe multidisciplinar que pode incluir médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, técnicos de enfermagem e educadores físicos.

Com relação ao conteúdo, as palestras e outras atividades do programa podem incluir os seguintes temas:

  • Importância de uma alimentação saudável;
  • Alimentação e doenças crônicas;
  • Perigos da alta ingestão de açúcar e de sódio;
  • Fracionamento das refeições durante o dia;
  • Perigos de jejuns prolongados;
  • Alimentação e cognição: alimentos importantes para memória, raciocínio e concentração;
  • Alimentação como forma de prevenção de doenças e aumento do sistema imunológico;
  • Como se alimentar bem fora de casa;
  • Alimentação saudável com baixos custos;
  • Como se alimentar bem no trabalho.

Um bom material que pode ser usado como referência nos programas de reeducação alimentar é o Guia Alimentar para a População Brasileira, lançado em março pelo Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e a Universidade de São Paulo (USP). A publicação traz dicas de combinações saudáveis para o café da manhã, almoço, jantar e lanches, respeitando as diferenças regionais e sugerindo alimentos e bebidas de fácil acesso para os brasileiros.

Estratégias para a mudança de hábitos

Além de materiais informativos e palestras sobre nutrição e saúde, outras estratégias podem ser utilizadas para incentivar a mudança de hábitos. Entre elas estão reuniões em grupo, que proporcionam o compartilhamento de experiências entre os participantes, além de atividades práticas (como uma oficina de culinária saudável, por exemplo) e lúdicas (jogos e dinâmicas).

Outra boa estratégia é fazer entrevistas individuais com cada participante antes do início do programa, para obter informações sobre características pessoais e de  morbidade, prática de atividade física e consumo alimentar por meio de recordatório de 24 horas.

Também podem ser feitos exames de colesterol, triglicerídeos, glicemia de jejum e hemoglobina, e realizadas medidas de pressão arterial, de peso e altura para cálculo e classificação do Índice de Massa Corporal (IMC). Ao repetir os mesmos exames e testes no final do programa, tem-se um referencial ideal para mensurar melhor os resultados e um estímulo para que cada participante busque melhorar seus indicadores.

É importante ter em mente que o sucesso da reeducação alimentar depende muito do entendimento do papel desempenhado pelos alimentos na vida das pessoas. Mais do que mera fonte de nutrientes para a sobrevivência, a comida é fonte de gratificações  emocionais e meio de expressar valores e relações sociais. Portanto, os aspectos psicológicos relativos à alimentação não podem ser esquecidos.